As costumeiras expressões populares trazem, muitas vezes, no seu íntimo, contradições, incoerências e outras figuras que não condizem com a correta postura para os seres.
Dentre as várias expressões, que arrolamos nessa condição, achamos: Deus me vingará…; Confio na ira divina…; Devemos temer a Deus, etc. Mas uma delas servirá para as reflexões pretendidas no momento. É a que a maioria utiliza perante quaisquer realizações ou pretensões de realização: Se Deus quiser….
Se Deus quiser, viajaremos; se Deus quiser, compraremos; se Deus quiser fulano há de pagar pelo que fez…; hei de ver o seu fim, se Deus quiser…
Embora a beleza da expressão que dá a entender que o ser humano se dobra perante a sabedoria absoluta do Criador, há incoerências e inconsistências dignas de nota.
Como admitir que realizaremos alguma coisa sem que nos achemos na pauta do equilíbrio e do bem, e que Deus nos possa chancelar as atitudes?
Como pensar que o mal se deseje a alguém que caiu em desgraça em nossa consideração terá o aval do Pai da Vida?
De que modo o espírito perdulário, ou a ansiedade por comprar desbragadamente ou a ideia de consumo sem limites, pode receber o auxílio do nosso Criador?
Como entender que as posturas mesquinhas, ditadas por mágoas ou pelo orgulho ferido, possam fazer parte dos interesses do Pai do Céu?
Essa forma de ver e de pensar, ou seja, quando passamos a crer que tudo o que se faz é porque Deus o quis ou porque Deus o quer, indicará a faixa de imaturidade em que se acham os indivíduos, sem a mínima reflexão a respeito da grandiosidade de Deus sobre as coisas e os seres, no seio do infinito.
Bom seria se, de fato, o que cada alma realizasse na vida fosse a vontade de Deus, representasse o que Deus deseja de nossas posturas. Bom seria!
Se Deus quiser, ainda conseguiremos alcançar a madureza intelectual e moral, de modo a valorizarmos a vida terrena, recebendo a vontade do Senhor com harmoniosa resignação. Aí, então, é compreensível que Deus o queira. Deus o quer de fato.
Se Deus quiser, trabalharemos para plasmar tempos melhores no mundo, aprendendo a dar a César o que é dele e a Deus o que a Ele pertence. Indubitavelmente, Deus o quer.
No entanto, em nenhuma hipótese a expansão da sombra, do erro e do mal obteria o apoio do Senhor para sua implementação. Sempre que alguém o realize, obtendo ou não qualquer êxito, isto significa o respeito da Divina Vontade ao livre-arbítrio humano, mas tudo ficará inscrito na pauta das causas e efeitos. Vemos que nem sempre é Deus que programa as ocorrências, mas é sempre Ele que o permite, acatando os exercícios indispensáveis para que aprendamos a bem utilizar o nosso livre-arbítrio.
É por esse respeito dos Céus aos pendores humanos, na romagem evolutiva em que se veem os indivíduos, que o Senhor permite que se atirem nas valas da autodestruição, dos homicídios, do alcoolismo, da drogadição. É por meio dessas experiências frustradas que os humanos vão aprendendo, gradualmente, a bem utilizar a sua capacidade de fazer escolhas.
É assim que Deus acompanha os movimentos trôpegos da calúnia, das traições, da fuga dos deveres, da perturbadora sanha da mentira, mundo afora.
Nada disso ocorre porque Deus o deseje, mas porque Ele concede a cada um dos Seus filhos o tempo para crescimento, para o amadurecimento, a fim de tudo entender, na gradualidade correspondente à evolução de cada um.
Deus quer que nos enriqueçamos com valores do intelecto e do coração, de modo a galgarmos os caminhos da plena renovação. Nós todos o conquistaremos, um dia porque Deus o quer.
Livro: EM NOME DE DEUS. José Lopes Neto (Espírito), psicografia de José Raul Teixeira. Fráter Livros Espíritoas. Niteroi – Rio de Janeiro – RJ. 1ª Ed. 2007. Manoel Ataídes Pinheiro de Souza – Sociedade Espírita Amor e Conhecimento, Guaraniaçu – PR manoelataides@gmail.com