Tutelares da felicidade

O empresário saiu de casa esbravejando. Era comum se atrasar e, naquela manhã, ele tinha uma importante reunião agendada.

Ao parar o carro em um sinaleiro, deparou-se com seu vizinho que, de imediato, abaixou a vidraça do seu veículo, a fim de cumprimentá-lo.

Como sempre, perguntaria de sua família, do andamento dos negócios, do tempo. Irritado, ele preferiu fingir que não o vira, para evitar a conversa.

Poucos metros dali, ao parar no semáforo, uma senhora idosa depositou um pacotinho de balas sobre o retrovisor, ofertando-o à venda.

Ela demorou a retirar o pacote, pois caminhava vagarosamente. Impaciente, ao abrir o sinal, o homem atirou longe as balas, fazendo com que os olhos dela se enchessem de lágrimas, humilhada.

Mais à frente, por conta do trânsito intenso, havia enorme fila de carros. Quando o empresário avistou aquele caos, maldisse o trânsito, a rota escolhida, o motorista que estava na sua frente.

De maneira a tomar outro caminho, cruzou o canteiro central da movimentada avenida, esmagando diversas flores ali plantadas.

Finalmente, chegou ao escritório. Não deu atenção aos cumprimentos que lhe foram dirigidos e tratou de forma grosseira a secretária, que veio repassar os compromissos do dia.

Enfurecido, adentrou à sala de reuniões.

* * *

Em outro local da cidade, outro homem, calmamente, saiu de casa. Parou seu carro em um sinaleiro, encontrando seu vizinho.

Abaixou a vidraça, a fim de cumprimentá-lo. Percebeu que ele fingiu não tê-lo visto. Desculpou-o: era um empresário ocupado. Possivelmente, não queria se distrair de suas responsabilidades.

Mais adiante, em outro cruzamento, uma senhora colocou sobre o retrovisor do seu carro um pequeno pacote de balas.

Ele a encontrava todos os dias e, mesmo que não comprasse com frequência o produto oferecido, fazia questão de abrir a vidraça e cumprimentá-la.

Algumas quadras depois, por conta do grande fluxo de veículos, o trânsito estava parado.

Aproveitou então para contemplar as delicadas flores que, há alguns meses, haviam sido plantadas no canteiro central.

Tratava-se de ação voluntária dos residentes da casa de idosos que margeava a avenida. Todas as primaveras, alguns deles semeavam flores, numa espécie de homenagem à vida.

Pouco a pouco, a lentidão do trânsito se desfez. O homem chegou ao trabalho com tempo para cumprimentar os colegas, sorrir, tomar um cafezinho.

* * *

Bastante repetido, o dito popular afirma que a beleza está nos olhos de quem a vê.

Diariamente, entramos em contato com a realidade que nos cerca.

Todavia, ela não nos é imposta. Somos nós que a construímos, de acordo com nossos valores, princípios e sabedoria.

Observemos: enquanto alguns se incomodam com o canto dos pássaros, outros se alegram com as suas sinfonias.

Que realidade estamos criando? Com que olhos temos contemplado a vida?

Lembremo-nos: somente nós somos responsáveis pelas decisões que tomamos. Consequentemente, somos os tutelares de nossos desgostos e de nossas alegrias.

Felizes seremos se tivermos isso em conta.

Conforme asseverou Jesus: Quem tem olhos de ver, veja!

Pensemos nisso!

Redação do Momento Espírita.
Em 6.2.2019.

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