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A mulher e suas múltiplas funções: precisamos dar conta de todas?

Foi-se o tempo em que as propagandas e homenagens feitas às mulheres eram voltadas para suas funções de dona de casa e mãe de crianças disciplinadas e obedientes. Tais anúncios hoje nos causam estranhamento, uma vez que a maior parte da publicidade destinada ao público feminino hoje exalta sua independência e ambição pessoal e profissional. Certamente o Dia Internacional da Mulher está relacionado a isso.

O dia 08 de março simboliza a luta das mulheres pela igualdade nos direitos profissionais e atualmente está associado também ao combate ao machismo e maior empoderamento feminino. Contudo, engana-se quem pensa que as demandas da casa e de criação dos filhos não ocupam mais posição central no cotidiano das mulheres. A verdade é que além delas somam-se as recentes demandas profissionais.

As mulheres do século XXI continuam experimentando a cobrança social para que suas casas sejam verdadeiros lares, confortáveis e seguros para seus moradores, organizados, mas que possibilitem liberdade para as crianças brincarem e imbuídos de afeto e harmonia. Espera-se que os filhos sejam não apenas atendidos em suas necessidades básicas, mas adequadamente estimulados para sua faixa etária, educados para serem inteligentes cognitiva e emocionalmente, alimentados de forma saudável e equilibrada (se possível orgânica) e tendo tempo de qualidade com seus pais. Isso significa para a maioria das famílias brasileiras, que não dispõem da possibilidade de contar com funcionários para lhes auxiliarem na organização doméstica e cuidado com os filhos, que os pais devem assumir essas funções, tradicionalmente, a mãe, a mulher.

Além disso, o mercado de trabalho espera dessas mulheres o mesmo que de todos: que esteja atualizada, motivada, proativa, criativa e comprometida em suas tarefas. Soma-se a isso o autocuidado pessoal, ou seja, estar em dia com a aparência física, que na prática significa não apenas cuidar da saúde, mas dispor de tempo para os cuidados com a pele, unhas, depilação, cabelos, alimentação… a saúde emocional também cobra sua vez para que o humor não se altere excessivamente, sendo importante relaxar, meditar, dormir bem.

E quando não está sozinha para administrar a casa, os filhos, o trabalho e a si própria, espera-se que as mulheres possam se dedicar também a seus maridos e casamentos, que o casal tenha um tempo somente para si e para os amigos em comum. Essas cobranças sociais, assim como a carga mental atrelada às diferentes funções e papéis da mulher na atualidade, não são visíveis, o que não significa que não sejam sentidas e reconhecidas pela maioria do público feminino adulto.

Mas será mesmo que temos que dar conta de tudo isso?

Será que temos que abraçar todas essas funções?

Será que precisamos ser excelência em todas elas?

Será que precisamos assumi-las sozinhas?

Felizmente com todo empoderamento e expectativa sobre as mulheres é possível que hoje possamos escolher quais dessas funções desejamos abraçar. Ainda causa estranhamento que algumas mulheres não tenham o desejo de se casar ou ter filhos, assim como causa a escolha das mulheres que abdicam da profissão para retornar ao lar e ao cuidado integral da família. O fato é que embora sempre tenhamos que lidar com as estranhezas e as críticas decorrentes de nossas escolhas, assim como com as perdas que cada uma nos impõe, hoje é possível escolhermos a qual ou quais dessas funções queremos nos dedicar.

E se o desejo for abraçar os papéis de mulher, mãe, esposa, profissional, amiga, é importante ter clareza que seremos o melhor dentro do que é possível. Perfeição em todas as esferas da vida (se é que existe!) e em todos os momentos é uma ilusão. Talvez o importante seja “manter a média” ao longo do tempo, se permitindo variações “nas notas” nos diferentes papéis no decorrer das diversas fases da vida.

Por fim, diferente do que viviam as mulheres antigamente, que geralmente residiam próximas a seus familiares e contavam com a rede de apoio de suas irmãs, mães, tias e primas, hoje as famílias são pequenas, e dificilmente moram nas proximidades. Contudo, há um movimento mundial de incentivo e inserção dos homens em funções que até então eram exclusivas das mulheres, como nas tarefas domésticas e cuidados dos filhos. Permitir e solicitar essa inclusão pode ser benéfico para todos. Contar com a sororidade, ou seja, com a união, empatia e companheirismo entre as mulheres ao invés da rivalidade, é uma maneira de trazer leveza para a vida das mulheres, independente de suas escolhas e momentos de vida.

É possível que o grande segredo para a felicidade e bem-estar não esteja na possibilidade de abraçar todas as funções, tampouco em poder escolhe-las, desempenha-las com perfeição, com ou sem ajuda, mas em reconhecer que cobranças e expectativas sociais são passiveis de ocorrer sempre, mas não precisam ser transformadas em autocobranças, auto expectativas ou autocríticas. E para isso, é fundamental que tenhamos autoconhecimento, que possamos ter clareza de quem somos e do que desejamos para ter clareza de nossas escolhas e conquistas!

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