Barranquear é um verbo chucro

Quem já participou de almoços ou jantares só para homens com a presença daqueles que depois de uns tragos gostam de declamar poesias gaúchas já deve ter ouvido uma que começa assim: Barranquear é um verbo chucro, mais velho que a monarquia. (daqui em diante é impublicável). O poema obseno refere-se aos garotos e não tão garotos das fazendas que relacionavam-se com animais, costume descrito como zoofilia. Dito isto conto um fato real do qual o autor destas mal traçadas foi testemunha ocular. Mal saindo da adolescência morava na Fazenda São Pedro, Município de Mangueirinha, um verdadeiro latifúndio da família Cartaxo, como outras tantas grandes extensões rurais utilizadas basicamente para a criação de bovinos, suínos e ovinos. Na citada fazenda funcionavam duas madeireiras de propriedade do Senhor Heitor Moro e nelas trabalhavam várias famílias de operários. Uma destas famílias tinha como matriarca Dona Maria dos Santos que por ter a pele negra era conhecida como Nhá Pelé. Seus filhos eram o Argemiro, o Airton e o Argilio e as filhas Querobina, Cacilda, Ondina e Erundina. Eram pessoas muito queridas, servidoras e colecionavam amizades sinceras. A propósito, Nhá Pelé fazia companhia a mim e aos manos quando Dona Nahir, minha mãe precisava ficar fora alguns dias para resolver algum assunto nas cidades mais próximas, Mangueirinha, Palmas ou Clevelândia. Outra família tinha como matriarca Dona Edavina Fidélis, os filhos Pedro, Dirceu, Alceu e João e as filhas Júlia e Zeni. Estes possuíam uma meia dúzia de cavalos para montaria ou para puxar cestos de milho da roça que plantavam. Entre os animais, uma égua tordilha conhecida nas redondezas como Branca Véia. O animal, dócil ao extremo dera de escoicear, morder e distribuir pataços em qualquer um que se aproximava e logo descobriram aquela mudança repentina de humor. A piazada dera de pegar a égua, encostá-la num barranco (barranquear como dizem nas fazendas) para satisfazer os instintos que não comento por respeito aos leitores mais púdicos. Argilio era contumaz neste tipo de safadeza. O meninão tinha uma cinta com fivela de metal dourado com uma cabeça de cavalo, que era seu orgulho. Não vendia e nem queria ouvir qualquer proposta de troca. Uma tarde aquele bando de rapazolas estava a jogar conversa fora, este escriba no meio, quando todos repararam que o Argílio tinha no lugar da preciosa cinta um tento de couro de boi a segurar-lhe as calças. Pior foi quando se aproximou o Dirceu Fidélis, meteu a mão no bolso da bombacha e dele retirou bem enroladinha uma cinta com fivela de cabeça de cavalo e falou para o Argílio: Me parece que este objeto é seu, quer saber onde o encontrei? O meninão gaguejou, gaguejou, se mandou sem responder e não apanhou a preciosa cinta. Todos entenderam que a Branca Véia havia escapado com a cinta no pescoço.     

 

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