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Guaiaca Lindaça!!!

No próximo mês de março esta coluna completa dezessete anos de publicações semanais ininterruptas e muito alegre fica este escrevinhador quando é abordado por leitores que comentam e elogiam a última que acabaram de ler. Como exemplos cito os amigos Aramitam  Fotunato, ex-prefeito de Ibema o qual encontrei casualmente numa casa comercial de Laranjeiras do Sul e  o jovem Guilherme, expert em literatura, culto, inteligente e bom papo que confessou-me ler a coluna semanal no seu local de trabalho, a Usina Hidrelétrica de Salto Santiago.

Hoje nesta primeira do ano 2017 conto-lhes de um peão lá da Bossoroca, conhecido como Mano Tasso, ginete dos buenassos, tinha uma beleza de guaiaca da qual muito se orgulhava. Ganhou a dita guaiaca num concurso de tiro de laço lá pras bandas de Santiago do Boqueirão. Era uma guaiaca flor de especial, couro brazino de touro chucro, muita prata e incrustada com pedras trabalhadas com arte… Ônix, Ágatas, Turmalinas e até uma baita esmeralda ornavam a hermosa peça de indumentária, que era o xodó do índio taura. Por onde quer que andasse, era comum a admiração causada pela tal guaiaca.

Não poucas nem mixurucas eram as propostas que recebia para vendê-la ou mesmo cambiá-la. “Dou uma parelha de carneiros”, ou “Troco por um barril de pinga da boa e mais minha guaiaca velha”. – Não importava a proposta, Mano Tasso não se desfazia por nada de sua bela guaiaca, que tanto chamava a atenção das chinocas pelas bailantas e bochinchos que frequentava…Tinha até os que tentavam levar a guaiaca em alguma aposta, mas não adiantava, pois o taura se garantia – fosse no jogo do osso, no carteado ou cancha reta – sempre acabava com a guaiaca e as prendas apostadas pelos incautos. “Além de bonitaça, ainda me dá sorte esta minha guaiaca” costumava bravatear…Certa feita lá pros lados de Santo Angelo, a guaiaca chamou a atenção de um tal de Chico Espora, que tentou de todas as formas ficar com a relíquia – que Mano Tasso às vezes chamava de “meu talismã”. Vendo que nada adiantava, resolveu “desistir” de ganhar a guaiaca e partiu para uma tática diferente.

Não falou mais no assunto e passou a puxar conversa-fiada e meter trago guela-baixo do dono da guaiaca. O índio não se entregava fácil pra canha, e foi “perciso” quase três litros da que matou o guarda pra entortar a guampa do Mano Tasso. Sentindo que havia se passado no trago, e pressentindo a maldade, deu um jeito de sair do bolicho – alegando que tinha que encontrar uma chinoca e que a noite se achegava e tal e cousa. Montou no zaino e saiu picada a fora, sem perceber que era seguido pelo maleva do Chico Espora… Pelas tantas, resolveu apear pra tirar um cochilo encostado numa árvore até esfriar os miolos e passar a bebedeira. Era a oportunidade que o Chico esperava, e mal o Mano apagou, foi subtraído de sua tão estimada guaiaca.  Quando acordou e deu por falta da guaiaca, bateu um misto de desespero e raiva no coitado do Mano Tasso. “Mas que barbaridade tchê, isto é cousa que não se faz nem com cachorro comedor de ovelha” – pensou se sí para persí nosso personagem. Partiu em louca disparada, levantando polvadeira rumo ao bolicho onde enchera a cara, disposto a sangrar o desgranido que levara a guaiaca. Mas nada.

O desalmado ladrão havia se escafedido mundo-fora e o pobre do Mano Tasso – por mais que assuntasse e procurasse o maleva – não tinha jeito de encontrar. Alguns meses despues, já quase resignado pela perda da amada guaiaca, encontra em um bolicho o tal Chico – guaiaca na cintura – bebendo e contando vantagem numa roda de peões. Sentindo em suas veias o sangue a ferver, resolve acabar com a vida do Chico ali mesmo, mas antes disso vai desacatar e desmascarar o safado, pra que todos saibam quem é o verdadeiro dono da guaiaca e que a morte é o justo salário para um ladrão. Como quem não quer nada com nada, se aprochega na roda de charla e, mão na Coqueiro (faca das melhores que conheço)  e olho no olho de sua iminente vítima, dispara:- Que mal lhe pergunte, onde arranjou esta guaiaca?

O Chico, pressentindo o perigo, manteve a calma e respondeu: – Pues sabes, tchê… Esta belezura de guaiaca eu peguei de um borracho (bêbado) que encontrei na beira do caminho… Aliás, não foi só a guaiaca, sabes como é… c… de bêbado não tem dono, então aproveitei a ocasião pra pegar a guaiaca e barranquear o pau-d’água – pois que um traste daqueles não merece uma guaiaca tão bonita… Mas por quê perguntas da guaiaca? Por acauso conhecias o dono? E o infeliz do Mano Tasso: – Por nada não… bonita guaiaca… Entendemos o drama do Mano Tasso; pra gaúcho dos bons mais vale a honra do que qualquer relíquia.

Conversa de amigos de copo: – Na nossa idade estamos sujeitos a ter o Mal de Parkinson ou Alzheimer, qual você prefere? – Parkinson, ora, pois prefiro derramar a metade do copo do que esquecer onde guardei a garrafa. 

 

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