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NÃO CONHECE MAIS MOGANGA?

Esta é do tempo em que ainda não haviam sido inventadas receitas deliciosas com abóbora, moranga (também diziam moganga) e mandioca, tidas num passado não tão distante como comida de pobre pelo fato de serem fáceis de produzir e, portanto, abundantes. É bom que se diga que no meio rural, também são utilizadas no trato de suínos e bovinos. Quando menino, em Mandirituba, cortei muita abóbora para o porco no chiqueiro e a vaca leiteira na casa do avô João Moletta. Mamãe contava que em Areia Branca, hoje distrito de Mandiritiba, nas margens do atual BR 116, havia uma Seção do DNER com trabalhadores de várias regiões do Brasil, atuando como motoristas, tratoristas, patroleiros, mecânicos e demais atividades do gênero. Residia ali, uma família de mineiros composta pelo casal e três filhas moças. Morávamos à época em Areia Branca, onde a parteira enterrou meu umbigo e ali também nasceram meus irmãos Farid Sebastião, José Itamir e Antônio Neuzir. Mamãe gostava de visitar a família mineira onde era muito bem recebida e como não havia chimarrão tomava café e fumava palheiro. As moças do lugar, cuja distância de Curitiba é de 48 quilômetros, em sua maioria trabalhavam na capital como domésticas, emprego honrado como qualquer outro. Em casas de famílias abastadas, aprendiam a se produzir e falar um português mais aceitável. Muitas arranjavam namorado que virava noivo e marido. Mamãe estava na casa dos mineiros, coincidindo o dia em que uma das filhas veio da capital trazendo a tiracolo o namorado curitibano para que os pais o conhecessem. De mãos dadas com o rapaz foi até a varanda nos fundos da casa onde havia a horta e nela dezenas de morangas maduras, à época, como já disse, conhecidas como comida de pobre. Certamente para aparecer para o namorado perguntou: Mamãe, que frutas são aquelas que estão espalhadas por toda a horta?. E ouviu da mamãe mineira: Uai minha fíia, não conhece mais moganga? Você se criou comendo isso, no armoço e na janta! E completou: Vou cortá e cuzinhá uma pra vocês comerem de sobre mesa com leite.

PS. João Afonso Camargo, meu pai, foi uma liderança em Areia Branca dos Assis, onde tinha armazém e posto de gasolina. Um dos poucos moradores da época que possuía automóvel vivia levando doentes que precisavam de atendimento médico em Curitiba. Como homenagem póstuma, o maior estabelecimento de ensino de Areia Branca é o Colégio Estadual João Afonso Camargo.    

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