“Posso não concordar com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la”, Voltaire nunca foi tão necessário
Nossa editoria Mundo Jovem de hoje trata da cultura do cancelamento. Cancelar uma pessoa, significa, deixar de segui-la, bani-la ou difamá-la nas redes sociais. “Cultura do cancelamento”, retrata um estilo de vida moderno e foi eleito como o termo do ano em 2019 pelo Dicionário Macquarie, que todos os anos seleciona as palavras e expressões que mais caracterizam o comportamento.
Basta passar meia hora lendo o Twitter para entender esse fenômeno. O ódio, raso, rasteiro toma conta dos comentários, especialmente se são disparados por perfis anônimos.
Na realidade, o processo de cancelamento acontece como o efeito manada, nome dado pela Psicologia para definir a tendência do ser humano em se comportar como todo mundo (seu grupo, a sociedade ou a maioria das pessoas em geral) está se comportando, mesmo sem saber o motivo daquilo. Os crimes ocorridos em 8 de janeiro nos prédios públicos de Brasília são seu efeito físico mais recente.
Uma tecnologia que expandiu de forma incrível a nossa capacidade de comunicação, a internet, também revela o que há de pior em nossa psiquê. Muitas celebridades já foram vítimas de perseguição e desrespeito, propagadas pelos arautos do politicamente correto, guardiões da moralidade e pessoas que devem se achar, absolutamente, perfeitas.
Num mundo livre, quem define o que é certo e o que é errado, sem que uma lei ou instituição esteja organizando isso? O que poderia ser passível de uma discussão pública acaba construindo outras formas privadas de uma cultura que pode dar muito errado, muito rápido. Basta lembrar que as formas antigas de cancelamento acabam em apedrejamento e linchamento. Mesmo quando não há agressividade física, os danos psicológicos e mesmo financeiros de quem é vítima desse tipo de cultura são extensos.
A atriz Letitia Wright, foi cancelada no ano passado, após compartilhar em seu perfil no Twitter um vídeo que criticava o uso de vacinas contra a Covid-19. Duramente criticada, ela chegou a apagar suas contas nas redes sociais. Antes disso, escreveu: “se você não se conforma com as opiniões populares, mas faz perguntas e pensa por si mesmo… Você é cancelado”.
Para combater a cultura do cancelamento, invocamos o filósofo Voltaire: “posso não concordar com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la”. Poucas vezes, um intelectual, morto em 1778, foi tão atual e necessário.