Então é Natal. Todas as luzes se acenderam e tudo se iluminou. Esse ano tivemos amigo secreto, reuniões familiares, ceia, peru, que, na maioria das vezes, na verdade é um frango maior que o comum.
As cidades ganharam muitas luzes e a alegria de sair na rua com o sorriso aberto e descoberto trouxe uma sensação indescritível.
Houve uma chuva de Papais Noéis. Eles estavam em todos os lugares e chegaram com semanas de antecedência. Estavam na praça para receber a cartinha com o pedido do presente e fazer aquela famosa pergunta: “Você se comportou esse ano?”
Claro que todas as crianças se comportaram! Ninguém diz o contrário para o bom velhinho.
Teve Papai Noel na novena de Natal, fazendo a alegria das crianças e dos idosos.
Teve Papai Noel barrigudo, visitando academia só para entregar doces (isso parece contraditório, não acham?).
Teve Papai Noel em cima de camionete percorrendo a cidade e distribuindo doces e brinquedos às crianças.
Teve Papai Noel nas igrejas, nas festas em famílias, nas lojas, nos mercados. Esse ano o bom velhinho trabalhou como nunca, depois de no ano passado ter ficado isolado lá no Polo Norte, pois ele é do grupo de risco.
Mas o Natal não é feito só de Noéis. O Natal é feito de presépio embaixo da árvore de Natal cheia de bolas coloridas que fazem a alegria dos pequenos.
O Natal é feito de muitas luzes, pisca-pisca na sacada, nos beirais, nos telhados, nas decorações de praças e prédios. Nesses tempos, ninguém se importa com o valor da conta de luz! Há dentro de nós algo maior que nos impulsiona a querer iluminar…
O Natal é feito de bolachas coloridas pintada pelas vovós e netos. Ah, como eles adoram esse momento de enlace das gerações! As vovós orgulhosas por passar a receita adiante, enquanto que os netos só querem encher a barriga, mas quando se tornarem adultos carregarão na memória esse doce momento.
O Natal é feito de troca de presentes e de amigo secreto, que dependendo do presente pode se tornar um inimigo secreto. Mas, na maioria das vezes, tudo transcorre bem e esse momento acaba em abraços calorosos, dos quais sentimos tanta falta no Natal de 2020.
Natal também é feito de casa cheia e família reunida ao redor da mesa da ceia, a qual as mães e avós sempre exageram e ficamos uma semana quebrando a cabeça na reinvenção de pratos para aproveitar as sobras.
Mas o Natal também é feito da exclusão daqueles que, como Maria e José, encontram-se sem um abrigo para repousar.
O Natal é feito de muita solidão: o vigilante que não pode deixar seu posto; o trabalhador que abastece as mesas fartas, o médico e o enfermeiro; o policial e o prisioneiro; o cuidador e o idoso. Aqueles que estão rodeados de familiares, mas que estão intimamente sós. Todos são transpassados pela mesma dor!
O Natal é feito da ausência daqueles que não estão mais na mesa da ceia, ou da vovó que não está mais ali para pintar as bolachas. Das mães dando bronca para secar a louça, estender a toalha à mesa e nos incentivar a comer mais e mais. Dos filhos que chegavam cheios de saudade num abraço interminável. Dos amigos, nas mensagens rápidas de “Feliz Natal”. Porém a ausência é uma forma de presença, porque ela nos lembra daqueles que se tornaram eternos para nós!
Infelizmente, o Natal também é feito de fome, escuridão e dor…
Talvez esse tenha sido o Natal mais intenso, real e verdadeiro dos últimos anos e tão próximo do que representa genuinamente essa data.