Leitores e leitoras que como o colunista já viveram meio século ou até mais tiveram a infância povoada por lendas e mitos que contados pelos mais velhos tornavam-se verdades indiscutíveis. Ouvíamos histórias de lobisomem, saci pererê, boitatás e tantas outras que só com o tempo descobrimos serem frutos de mentes férteis ou crenças dos antepassados. Se a inofensiva coruja suindara voava grasnando sobre uma casa era o mau agouro de que morreria alguém da família. Os caboclos diziam sondária para o bichinho também conhecido como rasga-mortalha. Na fazenda São Pedro da família Cartaxo no município de Mangueirinha morávamos num casarão de madeira com amplo sótão onde instalamos duas camas, dormitório do colunista e de um dos manos. Deixávamos à janela aberta e ali passou a se empoleirar uma coruja suindara. Guardávamos no sótão dezenas de couros de bovinos que depois de estaqueados eram enrolados. Descobrimos que no interior dos rolos se aninhavam dezenas de ratos e esta fartura atraía a coruja, cuja vizinhança era bem-vinda, tanto que seus vôos sobre nossas cabeças não nos incomodava. O quase centenário Seu Gregório Plaxewski que morava conosco, do alto se sua experiência nos aconselhou a não molestar o bichinho que vinha ao sótão para caçar ratos. E neste universo de lendas, mitos e medos, lembrei dos aluninhos de antigo Jardim de Infância onde a professora que diziam Tia perguntava a turma do que tinham medo. Um temia lobisomem, outro o Saci, o boitatá e assim por diante, até que o Joãozinho disse que tinha pavor do Malamém. Que bicho é esse Joãozinho, que eu nunca ouvi falar? Ele explicou que também não sabia do que se tratava. Apenas lembrou que sempre ouvia a mãe rezar terminando a oração com as mesmas palavras: Livrai-nos do Malamém. Também o padre na Igreja e a Tia da catequese ensinavam a rezar a oração que pedia para nos livrar do Malamém.