Porque as escolas são alvos de ataques?

Caros leitores, estamos vivendo dias realmente desafiadores, confesso que como mãe e como profissional da saúde ataque à creche em Blumenau na semana passada me preocupou. Não só pela solidariedade com as famílias, por compartilhar a dor das mães, ou pela crueldade da envolvida no ato. Mais principalmente pela onda de medo e insegurança que envolveu o cenário escolar no país inteiro.

Afinal, por que a escola é o alvo escolhido por esses indivíduos? Os autores de massacres como o  de Suzano (Sp) foram identificados como ex-alunos da escola. Segundo especialistas, é comum que autores desse tipo de crime tenham uma ligação com a instituição que é atacada.

Uma série de outros fatores, que incluem transtornos mentais, e que variam em cada caso, também são considerados ao analisar o que leva alguém a entrar, especificamente, em uma escola atirando, ou ferindo professores e crianças. Há estudos de psicólogos, como Peter Langman, se dedicam a estudar o fenômeno de atiradores em escolas há décadas. Peter, autor de dois livros sobre o tema, é considerado um dos maiores especialistas sobre massacres em escolas. Concordo com sua teoria “Geralmente, atiradores escolhem as escolas onde estudam ou já estudaram”, afirma, “É o local que ele conhece, fez parte da vida dele, é o que está na memória. É lá também que pode ter surgido problemas ou conflitos com professores, funcionários ou colegas”, afirma. Pelas análises, ele afirma que os atiradores miram, geralmente, funcionários, mulheres, rivais ou colegas que invejavam, e buscam algum tipo de revanche.

Sob o enfoque da psicologia, não há um perfil específico para esses atiradores, mas todos são diagnosticados com transtornos e doenças mentais. “Uma das categorias que analisa o assassino traumatizado. São pessoas com histórico familiar terrível e que já sofreram eventos traumáticos, estresse crônico ou abuso”, A opinião de um renomado psiquiatra forense Guido Palomba, conhecido por trabalhar em casos criminais de repercussão nacional, corrobora para o fato de que em tragédias como a de Suzano SP e a de Blumenau SC, os autores do crime, geralmente, têm alguma ligação com a escola. “Eles têm alguma coisa, podem ter sido expulsos, podem ter passado na porta e visto ou ouvido alguma coisa, não se sabe qual é o motivo”, diz o médico. “ Ter feito da escola o palco disso foi circunstancial, se ele trabalhasse no metrô, por exemplo, poderia ter escolhido o metrô como alvo”, afirma Guido.

 No entanto, não há uma lógica por trás ou que a escola pode ser culpada pelo acontecimento. “Não existe lógica. A escola não é fator predisponente (que cria as condições), não é a causa do fato, a causa do fato é a loucura”, diz o médico. Até mesmo escolas com detectores de metais já foram alvos de ataques em massa. Cabe ressaltar que o ambiente escolar, especificamente, não tem características específicas, como falta de segurança ostensiva, que levam os autores a escolherem como alvo.

 Estamos sendo aterrorizados pela ideia de que um massacre pode levar a outro. É interessante avaliar esta perspectiva sob o efeito ‘copy-cat’(copiado, em inglês), termo criado por Peter. Ele afirma que vários assassinos citam casos anteriores de massacres em escolas, como o de Columbine, em 1999, nos Estados Unidos, como “inspiração” para agirem também nesses locais. Já que os casos desse tipo de violência em massa ganham repercussão nacional, O que podemos fazer? Nos fortalecer enquanto família? Assumir a responsabilidade por educar e acompanhar os filhos, (isso significa entender a escola como parceira pela formação acadêmica das crianças não responsáveis por elas). Encurtar a distância entre o real e o virtual? Repensar as formas de convívio social que favorecem cada vez mais o isolamento? Realmente não tenho respostas. Sei apenas que é hora de refletirmos enquanto sociedade como um todo sobre a direção, pois o passo para a insanidade já foi dado a muito tempo.

Até a próxima semana.

@neziapsicologa.