QUANDO OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS

Vi nos noticiários o ato louvável de um policial turco que nadou cerca de 150 metros num lago congelado para salvar um filhote de cachorro prestes a morrer de hipotermia. O animalzinho, uma fêmea, foi levado à clínica veterinária e posteriormente adotado pelo seu salvador. Já a imprensa regional trouxe a notícia de que numa cidade do Sudoeste do Paraná, a família viajou e deixou o cachorro preso sem comida e água. Quando os vizinhos perceberam, não havia mais nada a fazer, o animal morreu de fome e sede. Contrastes que nos fazem meditar como os seres humanos, ditos racionais se diferenciam nos atos do cotidiano. Nunca gostei de quem maltrata seres indefesos como idosos, crianças ou animais domésticos, tanto que o assunto trouxe à mente fato acontecido há alguns anos. Com o colega José Luiz, a caminho do trabalho, passávamos três vezes por dia próximo a um casarão nos arredores da estação rodoviária e víamos um cachorro preso numa corrente muito curta, pregada a uma árvore. O utensílio para a água invariavelmente seco ou de fundo pra cima. Nos dias chuvosos que se prolongavam o animal sofria ainda mais, pois não havia nenhuma espécie de abrigo. Deus me deu a graça de escrever razoavelmente e inventei uma carta, na qual dizia que vindo à Laranjeiras visitar familiares, enquanto aguardava o horário do ônibus, circulando pelas imediações da rodoviária deparei-me com a situação do animal. Como fazia parte de uma associação de proteção aos animais, na cidade em que residia, iria apresentar denúncia, ainda mais que tinha estreitas relações com o Ministério Público da minha Comarca. Descobri o nome de um dos moradores e sabendo o nome da rua e o número da casa, envelopei a carta de mentirinha, colocando como remetente um nome que veio à cabeça e uma rua que achei na lista telefônica de cidade do Oeste e a postei no Correio. Dois dias depois, aquela família havia instalado uma casinha de cachorro nova, ampla e bonita, provavelmente comprada no comércio local. A vasilha com água estava sempre cheia e a corrente onde o bicho ficava amarrado agora era bem mais longa, possibilitando seus movimentos. Às vezes é certo o ditado que diz que os fins justificam os meios e a carta ameaçadora foi o meio que encontrei naquela situação, pois não conhecia os moradores daquela casa e se não tinham compaixão de um animal indefeso, como receberiam pessoalmente caso um abelhudo ousasse se meter na vida deles? Creio que não moram mais na cidade, ou se mudaram de endereço e lerem a coluna ficarão sabendo quem escreveu a carta ameaçadora.  

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