RACISTAS, MAS NEM TANTO…

Na rua XV de Novembro, aqui em Laranjeiras do Sul se situa a Banca São José de propriedade do simpático cearense José Alves Martins, onde encontramos gibis antigos, defumadores, incensos, sabonetes para descarrego e um sem fim de cacarecos úteis no dia a dia. É o local de encontro de velhos moradores que conhecem a história antiga da região e são capazes de contá-la em detalhes. Lembramos de famílias de priscas eras que se tornaram inimigas, ocorrendo então várias mortes e vinganças. Muitos dos valentões já partiram desta para a melhor, restando alguns já na chamada terceira idade que hoje vivem pacificamente. Alguém lembrou de uma comunidade do interior colonizada por italianos vindos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina que ali construíram capela e cemitério, mas racistas que eram só permitiam sepultamentos dos de sua raça. Numa serraria, nas proximidades, havia falecido um operário negro que não tinha familiares na região e o gerente conhecido como Seu Joanim, providenciou o feitio do caixão e, com um grupo de operários aboletados sobre um caminhão foram sepultar o finado no dito cemitério. Alguns dos fundadores da comunidade se dirigiram ao local e impediram o sepultamento daquele homem de pele escura. Depois de muita discussão debaixo duma garoa fina já estavam se aprontando para colocar o caixão novamente no caminhão e procurar outro local, quando pela estrada vinha um cavaleiro no passo cadenciado da sua mula. Amigo do gerente da madeireira, apeou e foi até ele se inteirar do assunto. Havia tirado a capa de chuva e da sua guiaca pendiam o 38 de cano longo e a faca carneadeira. Sabendo da proibição entrou calmamente no pequeno cemitério onde os peões já haviam aberto a cova para sepultar o colega, olhou ao redor e ordenou: Podem abrir mais um buraco! Alguém argumentou que era um defunto só e perguntou o porquê de um segundo buraco. Com a mesma calma o homem completou: O outro buraco é para o primeiro que tentar impedir o enterro do pobre peão. Conhecendo o personagem, não só permitiram o sepultamento como ajudaram a jogar terra sobre o caixão e recitaram breve oração fúnebre. O cavaleiro da história real hoje beira os 80 anos, cumpriu um tempão engaiolado e tem muitos amigos aqui em Laranjeiras do Sul, inclusive este colunista. Encerrando, lembro que meu falecido sogro, filho de poloneses que muito sofreram na Europa detestava alemães, tanto que só se referia ao namorado de uma de suas filhas como Quinta Coluna.

P.S. A expressão Quinta Coluna se popularizou internacionalmente com a Segunda Guerra Mundial, quando foi utilizada para se referir aos soldados que defendiam a invasão nazista e de seus aliados a países considerados inimigos e também a espiões e traidores da própria pátria.

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