Caros leitores por repetidas vezes no consultório me deparo com pacientes adultos que após algumas sessões começam ter um novo olhar sobre sua estória de vida, nestes momentos envoltos por sentimentos ambivalentes raiva tristeza, decepção e alivio constatam que sofreram abusos. Esse momento é cheio de perguntas, onde o paciente (a maioria) não enxerga a situação vivida como abusiva, porem sente culpa, tristeza e apresenta comportamentos disfuncionais posso citar como exemplo destes, crises de ciúmes, não se reconhecem como capazes ou merecedores de sucesso. Baseados nestes fatos venho então falar sobre abuso:
Então descrevendo de forma simples posso dizer que o abuso emocional é o resultado de uma confusão de papeis dentro de uma família. Como uma espécie de reversão na ordem da natureza. Vou citar um exemplo bem comum. Aquelas crianças que cuidam de seus pais e não o contrário.
E isso não se restringe ao caso de filhos de dependentes químicos, alcoólatras e ou depressivos graves, ocorre na maioria das famílias ditas normais, onde um dos filhos (sempre é escolhido apenas um) é convocado a ajudar essa mãe ou esse pai que se diz fragilizado. Essa criança observa um pai que se diz incapaz de se defender, ou observa as repetidas cenas da mãe chorando, sofrendo, tendo problemas de saúde por conta das ações do pai. Logo no pensamento da criança ele assume esse papel de cuidar, de proteger e tomar as dores desse adulto. Essa criança entende naquele momento que se ela não ajudar aquele que está sofrendo, ela pode causar mais sofrimento ou perder o seu amor ou ainda pior ser abandonada pela família.
Paradoxalmente essa criança tão prestativa e amadurecida para sua idade vai desenvolvendo uma ferida emocional, pois enquanto cuida tão bem das pessoas a sua volta, quem está cuidando dela?
Para concluir digo que essa criança está desenvolvendo neste momento um grave desiquilíbrio em sua formação de identidade, pois quando não tem suas necessidades de dependência respeitadas e supridas ela passa a desconsidera-las, achando que não é importante e que seu desejo é vergonhoso. O seu egocentrismo infantil (acha que tudo gira em função dela) somado ao fato de precisar manter a idealização dos pais de quem depende para viver faz com que ela se anule e atribua culpa a ela com relação a atitudes dos pais.
Por exemplo: A criança foi esquecida na escola, naquele momento ela sente tristeza, medo e insegurança porem não atribui aos pais a responsabilidade pelo esquecimento pensa sempre sobre ela, pensa e desenvolve falas como: “isso é culpa minha”, sou má, sou burra. Esse comportamento vai acompanha-la na maior parte de sua vida se não foi devidamente tratado e reaprendido.
Dificilmente essa criança reconhecerá que viveu uma situação abusiva e levara muito tempo e vários prejuízos emocionais até que se e conta disso.
Convido você a uma reflexão: Você já se percebeu negando suas próprias emoções e vontades? Constantemente cria alternativas para ser valorizada? Esconde a todo custo as situações que te causam sofrimento? Se sua resposta foi afirmativa sugiro que dê atenção a sua história, feridas físicas precisam ter suas cascas removidas para que sejam devidamente curadas. As feridas emocionais não são diferentes.
Te espero na terapia.
@neziapsicologa.