Porque tragédias como a de Petrópolis nos causam medo e ansiedade

Caros leitores; depois de uma semana particularmente perturbada e cheia de emoções fortes e intensas reflexões cá estou de vota a vida normal, confesso que um pouco apreensiva porque tive de adaptar minha expectativa com a realidade, muitas tarefas e pouca disposição física para realizá-las. Quando me deparei com a notícia da tragédia em Petrópolis no RJ. Confesso que fiquei muito triste, me solidarizei com dor das famílias, porém além da tristeza senti uma inquietação, uma impotência perante a proporção da tragédia, senti insegurança, e fiquei pensando um longo tempo sobre a dor das despedidas.

Como disse na semana passada o isolamento me levou a várias questões relacionadas aos meus valores e gostaria de conversar sobre o porquê isso acontece. Porque ficamos inquietos querendo atribuir um sentido a tudo.

Vários dos meus pacientes que passaram por doenças, períodos de isolamento ou foram confrontados com suas limitações relatam essas experiências de intensa reflexão e os sentimentos contraditórios de medo e insegurança.

Isso se dá porque, o paradigma de morte atormenta o homem, estamos em constante contato com esta possibilidade e apesar disso não temos nenhum controle sobre o tempo (quando), a forma (como) com que esse encontro acontecerá, e todo esse mistério faz com que as nossas vivências sejam tão intensas a partir desse confronto.

 Essas tragédias, escancara para nossa mente a dor do outro, o reconhecimento da nossa finitude faz com que se crie propósitos para o existir, pois a morte é uma experiência sobre a qual os vivos não tem informações concretas. Cada pessoa tem sua crença, sua religiosidade própria conclusão sobre esse assunto, mas somente quem morre é que a experiência e ninguém pode passar pelo processo de morrer no lugar de outro alguém.

Talvez até cause algum estranhamento o assunto do texto ser de morte, finitude, mais é importante trazermos a luz esse assunto especialmente em momentos de grande comoção como este que vivemos para que a inquietação do tema gere movimento, que a angustia ganhe voz e não evolua para patologias mais graves, é preciso falar sobre o luto, sobre a morte sobre as limitações, sem se deixar obscurecer sob o medo implícito que o assunto encerra. E compreender que para cada pessoa, para cada história e para cada família existirá uma vivência particular e uma crença.

Sem certos e errado no momento que tomamos consciência da nossa morte, de nossa limitação percebendo que tudo acaba, percebemos vir o sentimento de angustia, diante do desconhecido, também é oportunidade de permitir o crescimento, de envolvimento com o que se dá, com o que a vida oferece e nesse sentido cada um pode oferecer o melhor de si.

O melhor tempo, a melhor versão de si, hoje encerro o texto com minhas orações para as famílias enlutadas em Petrópolis, que Deus as conforte.

@neziapsicologa