A reorganização familiar após a chegada do bebê

Por Naiane Schultz

              Ao receber o positivo, nove meses de espera e preparação parecem ser tempo demais para receber um pequeno bebê na família. Mas a verdade é que, por mais organizada que esteja a casa e o enxoval do pequeno e da mamãe, por mais que tenham sido lidos dezenas de livros sobre parto, pós-parto, amamentação e desenvolvimento infantil, ou ainda, realizados cursos durante a gestação, nada de fato garantirá que a família esteja totalmente preparada para o nascimento de um bebê. Isso ocorre porque comumente o nascimento de uma criança é acompanhado de surpresas e inesperados, além de cada bebê ser único e se comportar à sua maneira. Alguns, muito tranquilos, podem ter dificuldade de ficar acordados para mamar, causando preocupação em seus familiares. Outros, com maior necessidade de contato físico, podem depender do colo para conseguirem se acalmar e adormecer. Outros podem chorar ou solicitarem o peito da mãe por longos períodos…

A verdade é que só se conhecerá o bebê e suas demandas após o nascimento, o que pode gerar ansiedade em toda a família, não apenas nos pais, como nos irmãos, avós, tios e todos os que estão em torno dos recém papais. A outra verdade é que por mais preparado que se esteja em teoria, na prática a exaustão e as dores decorrentes do parto, a instabilidade hormonal, a falta de sono e as mudanças psicológicas que acometem a família, fazem com que tudo pareça novidade e diferente ou muito mais intenso do que se havia lido ou ouvido falar.

A chegada principalmente do primeiro filho, que por vezes também é o primeiro neto, demarca um momento de inauguração não apenas da criança nesse novo contexto, mas de um casal que se torna pai e mãe, de pais e sogros que se tornam avós e irmãos que se tornam tios. Quando o bebê não é o primeiro filho, há que se lidar com a novidade que é para uma criança tornar-se irmã ou irmão de alguém. Tais mudanças são delicadas e envolvem diversos fatores, tanto internos em cada membro familiar, como no senso de identidade, quanto em seus relacionamentos, nos padrões de interação comunicacionais, papéis, tarefas e funções.

A ideia que o bebê vai nascer e tudo vai se encaixar tende a ser substituída por uma sensação de caos ainda na maternidade. Durante os primeiros dias é comum que mães, pais, avós, tios e inclusive amigos próximos sintam-se perdidos e cheios de dúvidas quanto ao que gostariam ou deveriam fazer e o que se espera que façam. Sem a pretensão de ditar regras, mas com o intuito de facilitar e nortear a rotina familiar nos primeiros dias após a vinda do bebê, orienta-se que cada membro se responsabilize por algumas funções:

Mamães

Independentemente do tipo de parto, a mãe costuma necessitar de repouso para se recuperar da perda de sangue que teve com o nascimento do bebê, bem como dos incômodos físicos decorrentes do parto. Além disso, é importante que a mãe possa descansar para atender o bebê, que nos primeiros meses requer sua atenção quase exclusiva, uma vez que a preferência do pequeno é sempre pela mamãe. É comum e importante que nos primeiros dias e meses a mãe possa se dedicar a seu autocuidado e do bebê e à amamentação, que lhe demandam atenção dia e noite.

A mãe precisa ainda, lidar com algumas tarefas psicológicas, como fazer o luto de um corpo modificado pela gestação; o luto de sua própria identidade, uma vez que deixa de ser somente filha, esposa e profissional e torna-se mãe; aceitar o fim abrupto do sentimento de união completa e exclusiva com o bebê, que agora é partilhado com todos; adaptar-se a esse novo ser que evoca sentimento de insegurança e estranheza; viver o luto pela perda do bebê imaginário e perfeito, que dá lugar a um bebê real que chora e lhe solicita constantemente; suportar o medo de lidar com o bebê e machucá-lo, além de aprender a tolerar as exigências provocadas pela total dependência da criança.

Porém, a tarefa mais difícil para as mães costuma ser aceitar seu desempenho real como mãe, que pode se distinguir do idealizado durante a gravidez e criar ou permitir uma rede de apoio que lhe auxilie nos cuidados para consigo mesma, o bebê e a casa.

Papais

O pai é a fonte de apoio materno mais importante após o nascimento dos filhos. Neste período, o principal exercício do homem é a busca por uma profunda empatia com a mulher, para que esta se sinta compreendida e amparada emocionalmente, a fim de que possa amparar o recém-nascido.  Esta é a fase em que quem importa para o bebê é a mãe, e cabe ao pai todas as demais tarefas que permitam para a mãe, disponibilizar-se integralmente ao filho.

Neste sentido, o pai é um terceiro na constituição e facilitação da relação mãe-bebê e seu papel, como o de um guardião do ninho, é administrar e organizar as rotinas práticas, como ajudar a mulher a se sentar ou levantar, quando isso ainda lhe for difícil nos primeiros dias de pós-parto; realizar as tarefas domésticas, como cozinhar; ir ao supermercado e; quando houver outras crianças cuidar e diverti-las, já que é comum sentirem ciúmes da mamãe com o pequenino e exigirem mais atenção.

Ir junto nas consultas com o pediatra e procurar entrar em contato com o bebê, vencendo o medo de pegá-lo, trocar, dar banho e colocar para arrotar facilita a formação do vínculo do pai com o filho e permite que a mãe possa fazer alguma atividade prazerosa para si própria ou disponibilizar-se para os outros filhos. Outra importante função dos pais é gerenciar as visitas à mãe e ao bebê para que ambos não sejam incomodados durante o descanso, não se reúna um grande número de pessoas em torno da dupla e, tampouco, sejam criadas situações de ansiedade no lar.

Avós, tias e amigas

Apesar da importância do companheiro, outras mulheres que ofereçam apoio e acompanhem a mãe, valorizando-a, oferecendo informações e servindo de modelo de identificação para a mãe desenvolver seus sentimentos e suas capacidades maternas tendem a deixar a mãe mais segura e confiante para lidar com seu bebê. Algumas mulheres preferem as próprias mães para as auxiliá-las nas idas ao banheiro, trocas de absorvente, curativos, entre outras tarefas íntimas.

Vale ressaltar, que mãe, pai e bebê precisam de tempo e contato para se conhecerem. Então, as avós, tias e amigas que forem ajudar a família devem procurar auxiliar com atividades práticas como o cuidado com a casa, a comida, as roupas e as outras crianças, para que o pai e a mãe possam se ocupar do bebê, pois o vínculo com um recém-nascido se faz nos cuidados básicos.

Além disso, não é incomum surgirem dúvidas ou dificuldades tanto relacionadas ao bebê, quanto aos pais e a relação conjugal e familiar. Quando isso ocorre, o ideal é consultar um profissional da área, pois quanto mais precocemente as dificuldades são identificadas e tratadas, mais rapidamente são sanadas. 

 

 

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