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A tristeza de fim de ano e as metas para o Ano Novo

Por Naiane Schutz

O fim de ano chegou, a decoração de natal se apresenta nas casas,  lojas e ambientes de trabalho. Para muitos, a época mais esperada do ano, para outros, um período de incômodo, de uma sensação estranha. Os meses de novembro e dezembro costumam ser marcados pela expectativa das festas de fim de ano, reencontros, presentes, férias, alegria. Mas isso não quer dizer que todos os anos seja assim, nem que todas as pessoas se sintam dessa maneira.

Muitas pessoas costumam sentir que não entram no espírito de natal, não sentem a mesma empolgação que veem nos outros. Outras chegam a declarar sentir tristeza, ansiedade e angústia. Do ponto de vista psicológico, pode-se explicar esses dois tipos de sentimentos pelo que a finalização de um ano marca, ou seja, o encerramento de um ciclo, com as devidas comemorações e realização de metas, com o estabelecimento de novos projetos; ou ainda, a sensação de frustração por não ter atingido os objetivos propostos ou não poder comemorá-los como e com quem se gostaria.

No fim do ano, consciente ou inconscientemente, é comum se fazer uma revisão do ano que passou, das principais coisas que aconteceram, mudanças, conquistas e dificuldades. Alguns, realizaram grandes sonhos como uma promoção tão esperada no trabalho, um casamento, uma formatura, uma gravidez, o nascimento de um filho… Outros, sentem-se frustrados e fracassados, como se não tivessem realizado nada por não terem atingido as metas propostas para o ano, não terem trocado de trabalho, quitado dívidas, viajado, emagrecido, parado de fumar ou beber, não obterem mais satisfação nos relacionamentos, não terem feito novos amigos ou relacionamentos amorosos, ou não terem estado o tanto que gostariam com a família e antigos amigos. Outros ainda, ressentem-se por aqueles que não estão mais por perto, seja por motivo de morte, separações ou brigas.

Enquanto uns aguardam ansiosamente pelo tempo que passarão com familiares e amigos, outros sentem-se deprimidos e amedrontados com o que vai ou não acontecer: se terão com quem partilhar as festas, se terão que estar com familiares, se receberão amigos ou serão convidados por eles, se trocarão ou não presentes. Para aqueles que o ano ficou marcado pelas dificuldades, seja nas relações, na profissão ou pessoalmente, o fim do ano pode ser uma época pesada, cujo maior desejo é se esconder até poder voltar a rotina normal.

Mas nem sempre esconder-se é a melhor estratégia, a tristeza é uma emoção universal, que todos sentem em alguns momentos da vida, não sendo vergonha alguma admitir senti-la, tampouco necessário disfarçá-la. Somente ao abrir espaço para tristeza e permitir-se entrar em contato com ela é que se poderá compreender e elaborar o que está acontecendo e, assim, modificar a situação. Não é uma tarefa fácil, mas a angústia e o sentimento de inadequação podem ser trabalhados e um novo olhar para o fim de ano e os fechamentos de ciclos podem surgir.

Não há problema em refletir sobre tudo que foi ou não realizado ao longo do ano, mas sim em ficar focado nas frustrações e não em como superá-las. A ansiedade e a tristeza podem ser boas aliadas quando impulsionam a buscar soluções e a fazer diferente. Ao implementar as novas soluções e criar metas, é importante ser realista:

  1. Evite traçar metas muito grandes, prefira dividi-las em vários pequenos objetivos, que além de serem mais simples e fáceis, sejam viáveis a curto-prazo. Por exemplo, ao invés de traçar como meta para o novo ano eliminar 20kg, prefira traçar objetivos menores que o levem a isso, como: procurar um profissional de nutrição, iniciar uma reeducação alimentar, escolher uma atividade física que lhe seja prazerosa, começar a exercitar-se, de modo que você possa dar um passo de cada vez em direção a sua meta.
  2. Implemente uma mudança por vez. Dificilmente alguém consegue fazer muitas mudanças ao mesmo tempo sem uma carga considerável de stress. Imagine parar de fumar, ingerir bebida alcóolica, açúcar, glúten e carboidratos de uma só vez! Também prefira focar em uma área por vez, seja trabalho, relações ou desenvolvimento pessoal.
  3. Escreva e compartilhe com pessoas significativas seus objetivos e lembre-se de dividir e comemorar as conquistas de cada um deles. Assim, você permanece engajado e mantem-se motivado.
  4. Reavalie periodicamente suas metas e objetivos para confirmar se continuam em consonância com suas prioridades, seu momento de vida e saúde. A flexibilidade é um dos maiores indicadores de saúde mental.

Por fim, a depressão de fim de ano não deve ser simplesmente justificada como algo passageiro. Ela pode ser direcionada de forma positiva se utilizada para gerar uma reflexão sobre a vida, sobre o que se pode melhorar, se não se está desperdiçando oportunidades por medo de se arriscar, de não se achar suficientemente preparado, por não conseguir lidar de forma diferente com velhas situações. A procura por um profissional pode ser muito benéfica. O psicólogo auxiliará a rever e ressignificar importantes crenças sobre si mesmo, os outros e o mundo e, em alguns casos, um trabalho com familiares também é necessário. O mais importante é que cada pessoa possa ser vista integralmente, sendo respeitada sua história, seus desejos, expectativas, potencialidades e dificuldades, bem como sendo considerados os contextos em que se insere, como seu trabalho, família, relacionamentos e cultura.

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