À espera, na janela da existência

Valéria Caimi é mestre em letras, professora da rede estadual, poetisa e cronista

O mundo anda estranho. As pessoas estão, ainda, tentando por no trilho um mundo que já descarrilhou faz tempo. Mas os tempos são de tentativas que a vida está a oferecer.
Tentando fazer o vovô solitário ficar em casa, mas é no atendente da farmácia, ou no caixa do supermercado que ele encontra um afetuoso “bom dia!”
Tentando conectar a geração apaixonada por YouTubers aos professores e aos estudos virtuais.
Tentando aproximar famílias que não se falam frequentemente e se visitam menos ainda.
Tentando distanciar enamorados que necessitam de um beijo apaixonado para  sentirem-se vivos.
Tentando nos convencer que a vida vale mais que dinheiro e que todo o dinheiro do mundo não tem valor algum diante do inesperado.
Tentando mostrar que todos os meus sapatos não têm utilidade, se eu não puder ir à escola, ao trabalho, à igreja, ou, simplesmente sair por aí.
Tentando ensinar que os filhos são e sempre serão maquininhas de comer, se houver uma mãe por perto.
Tentando nos sensibilizar para o que é a vida de quem precisa se retirado da convivência social, por uma doença, por uma fatalidade, ou mesmo por um crime.
Tentando advertir que nunca estamos prontos. Prontos nem para perder, nem para ganhar. Muito menos, para viver plenamente e jamais estaremos prontos para partidas.
Tentando provar que a morte é a única certeza e a vida a única cartada.
Tentando revelar que sempre há pessoas em situações mais difíceis que a nossa. Estejam elas perto, ou longe de nossos olhos.
Tentando testemunhar que não importa quantas vezes fui à igreja, mas sim, quantas preces verdadeiras eu fiz.
Tentando nos orientar que o silêncio e a ausência do homem refaz a natureza.
Tentando demonstrar que mesmo em meio a guerra há pessoas pacíficas.
Tentando nos advertir que existem pessoas más, em maus tempos, que se aproveitam da fragilidade humana.
Tentando desvelar que somos frágeis, muito frágeis!
Tentando indicar que nossa fé é menor que um grão de mostarda.
Tentando nos surpreender que estar distante é uma forma de amar!
Tentando nos convencer que não temos o controle de nada que está ao nosso redor.
Tentando nos provar que o autocontrole é fundamental em tempos difíceis.
Tentando evidenciar que somos todos iguais. Humanos. E que perante a força da vida ou da morte, pouco importa nossa bandeira, nossa economia, nossa crença! 
 Mas a vida está dando-nos uma aula de que tudo passa e que minha espera na janela da existência não é vã.
*Texto escrito no 19° dia de isolamento social ( mês de abril).
 

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