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Espreitando na janela da maternidade

O que falar delas?! Tudo já foi dito. Não há mais nada a dizer sobre elas,  ou para elas. Ter um dia para homenageá-las não seria necessário, mas se não existisse talvez, alguns de nós, não pararíamos alguns minutos para postar-lhes uma homenagem nas redes sociais. Não lembraríamos de comprar-lhe um presentinho a aquela que nos deu tudo, inclusive a vida e algumas lições de vida!

Sou de um tempo em que a chinelada era a arma mais utilizada por essas mulheres. Rainhas que perdiam a coroa e a compostura diante das traquinagens das suas princesas e príncipes! Porém, as mães do século XXI mudaram. E como mudaram! Já não se utilizam tanto dessas armas! Eu disse tanto!  Ser uma delas nesses tempos não é um desafio tão simples assim. Apesar de termos bem menos filhos que nossas avós e nossas progenitoras, a maternidade nos custa. Sempre custou a todas as nossas ancestrais e nesses tempos não é diferente!

A maternidade deixa-nos marcas físicas e emocionais irreversíveis. Não somos as mesmas, depois de uma, duas, três, ou mais gravidezes. Sim! Pasmem! O plural de gravidez é gravidezes! A vida não segue e nunca mais seguirá no mesmo compasso  tendo dias em que estamos acabadas! Ficamos acabadas sim! E daí?! Não precisamos ser lindas e fortes o tempo inteiro! Apesar de  fazermos de tudo para que esse acabamento não seja notado.

Vestimos nossa capa de heroína e seguimos pelos nove meses afora, carregando nossos quilos a mais, naquele turbilhão dos hormônios que nos transformam em maquininhas de comer, sem o menor ânimo de fazer uma caminhadinha ao menos, ou em enjoadas que não podem ver comida! Depois disfarçamos nossas olheiras pelas noites mal dormida, com a recém chegada de um bebê em nosso lar. Olheiras que seguirão permanente, pelas noites mal dormidas, na fase da adolescência e juventude de nossas crias.

É, esse acabamento segue-nos pelos restos de nossos dias! Em alguns mais outros menos!  Em certos momentos o acabamento pode ser gíria aniquilar, terminar, destruir; em outros, de término, arremate, dar forma!

Sobre estar aniquilada, destruída, qualquer forte mulher sente-se assim, após a tripla jornada. Chegar em casa e ver aqueles olhinhos sedentos por atenção e aquelas bocas famintas, gritando “Mãe, eu tô com fome!”, ou ainda as mãozinhas com um lápis e um caderno dizendo que não entendeu nada da tarefa são fatos cotidianos da rotina.

Em outros momentos o acabamento significa dar forma, arrematar, terminar. Quantas vezes precisamos dar forma aquela fantasia do show de talentos da escola, ou terminar a maquete de ciências, ou aquela receita iniciada e que não está dando muito certo.

 Os arremates feitos pelas mães são os mais singelos e importantes da vida de qualquer ser humano. Qual mamãe que nunca arrematou aquele bloco de rifa da escola, só pra não deixar o seu filho se sentir um pedinte? E os arremates nos laços do vestido e do cabelo, ou na gravata do filho? Arrematar é nossa especialidade. Arrematamos e até matamos por eles.

Quando o acabamento tem significado de término, é aí que realmente sentimos a necessidade de estar presente. Muitas vezes, sofrendo em nosso peito suas dores. Ao terminar a lição de casa esquecida e só lembrada no domingo quando a musiquinha do Fantástico começa a tocar.  Na decepção do término do primeiro amor, ou mesmo de um longo relacionamento. Quando a vida termina. Estamos sempre espreitando na janela de sua existência, acabando-nos com o acabamento de nossos rebentos.

Sim, a palavra que definiria uma mãe é  ACABAMENTO. O acabamento é a parte mais difícil, mais delicada e mais cara da obra. Os filhos são a nossa obra que optamos construir. Até formá-los, acabá-los, tentando deixá-los sem nenhum arranhão, alinhadinhos, belos  exige tempo, olhar atento e paciência! Haja paciência! Nessa sincronia entre acabá-los e acabar-nos,  construímos a maternidade!

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