Isolamento social: pela janela da adolescência

Valéria Caimi é mestre em letras, professora da rede estadual, poetisa e cronista

Se sofremos com essa pandemia e o isolamento social, há aqueles que  sofrem mais! Esses seres são barulhentos por dentro e por fora, assim, esse silêncio forçado do distanciamento não combina com os adolescentes.
Imagina a dor inexplicável de não poderem andar em bando às gargalhadas  no meio da rua correndo risco, muitas vezes, de serem atropelados. 
E aqueles encontros nos sábados à noite, para devorar uma pizza e depois brigadeiro de panela, enquanto empilham-se no sofá para assistir a um filme e chorar horrores com as amigas. Depois jogar conversa fora até a madrugada.
O que dizer das festas de 15 anos que as garotas tiveram que cancelar? Todo o sonho de princesa adormecido, como nos contos de fadas.
Também foi adiado aquele rolê perigoso e, muitas vezes, irresponsável de cinco, ou mais, dentro de um carro rebaixado pelas ruas da cidade, após uma aquela festa, que os pais deram muito trabalho para serem convencidos a deixar ir.
 Quem imaginaria que os jogos de futebol, paixão de todo brasileiro seriam interrompidos? Passaram-se meses sem correr horas atrás de uma bola, ou, simplesmente, se reunir com a galera para ver o jogo do seu time do coração. 
 Até mesmos aqueles adolescentes religiosos mais fervorosos sentiram sua fé prejudicada. Cadê a aglomeração dos retiros em que passam, às noites, empilhados no mesmo beliche, no mesmo colchão?  Em que as roupas são jogadas e só resgatadas semanas depois, pois foram levadas por engano na mochila do amigo. Os abraços calorosos na porta da igreja, as conversas infinitas sentados nas calçadas depois do culto, deram lugar às lives.
 Qual o local em que eles mais se encontram? A escola. Sim, ela, que eles tanto reclamam de ter que ir todos os dias, foi arrancada da vida desses seres, às vezes, diabólicos! Mas muito mais angelicais e de luz! Tudo nessa idade é potencialmente intenso! As gargalhadas nos corredores, a bagunça no intervalo, as fofocas e bilhetinhos na sala de aula, os apelido cruéis aos professores. Nada disso tem graça virtualmente!
O que falar então da ausência dos abraços intermináveis nos encontros matinais em frente ao colégio? E aquele alvoroço na fila do lanche no recreio? Daqueles beijos roubados nos corredores? Ou de outros dados as escondidas atrás da escola? Tudo está cancelado!
Sinceramente isolamento não é para essa fase da vida, em que os hormônios estão a mil e tudo é um turbilhão. Adolescentes não sabem cumprimentar sem abraçar, sem lançar-se ao pescoço do amigo aos risos e falas exageradamente altas. Esse momento é de descobertas e de encontros. Encontrar o outro é a função mais pujante da adolescência! É a fase da vida em que saímos das janelas e corremos abrir portas e quando elas não são abertas muitos adolescentes até pulam as janelas! A curiosidade e a necessidade de  lançar-se é incontrolável.
Sinceramente, como cancelar esse período em que o coração nunca bateu tão forte?  Um coração que, também anda duvidoso e cheio de medos! Um coração que tem se colocado na ponta dos dedos em teclas ligeiras, nas janelas virtuais. Por elas, os “aborrecentes”, como maldosamente os chamamos, encontram uma forma de estarem menos aborrecidos com esse mundo que “está meio ao contrário”. Você já reparou?
 

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