Briga de irmãos: o que fazer?

Recentemente comemoramos o dia dos irmãos e foram inúmeras as manifestações em redes sociais de irmãos declarando uns aos outros seu amor e gratidão. Chama a atenção que é somente na idade adulta que a maioria dos irmãos reconheça o inestimável valor de uns para com os outros e que as principais lembranças infantis dos irmãos sejam de disputas e brigas em meio a brincadeiras e competições.
Ninguém nega que a convivência entre irmãos tem uma influência extremamente significativa ao longo de todo desenvolvimento de uma pessoa, principalmente no que diz respeito às características emocionais e sociais. E é inegável também, por todos os pais que possuem mais de um filho morando juntos, o quanto é delicada a linha que separa as brincadeiras das brigas, a cooperação da competição, o amor do ciúme. Justamente nesse equilíbrio de forças que se desenham as bases para relacionamentos futuros com amigos, colegas e mesmo cônjuges.
As brigas são pelos mais variados motivos, mas frequentemente envolvem:
Disputas por objetos: na infância por brinquedos, materiais, tablets, televisão e, na adolescência, por roupas e acessórios, entre outros.
Disputa por lugares: seja no carro, na mesa, no sofá, como nos cômodos da casa durante a escolha dos quartos, por exemplo.
Disputas por atenção: dos pais, avós, amigos…
Muitos pais, ansiosos por verem os conflitos encerrados ou sentindo-se culpados por não conseguirem impedir ou resolver as brigas, procuram saná-las comprando mais coisas, para que assim cada filho tenha o seu brinquedo ou computador, por exemplo. Porém, não importa a quantidade ou a qualidade de brinquedos que se tenha disponível, os irmãos sempre acharão pelo que brigar. Afinal, uma das maiores funções dos irmãos é justamente ensinar a cada um que aprenda a se defender, reivindicar, brigar, ceder e perdoar. Cabe aos pais, ensiná-los a gerenciar esses conflitos, para que as situações de disputas não se tornem intensas a ponto de criar situações de tamanha hostilidade que impactem de forma negativa na construção da identidade e autoestima de cada de um.  
Mas então, o que fazer quando os ânimos esquentam entre os filhos e brigas começam? Que pai e mãe nunca ficaram na dúvida entre intervir ou não nos conflitos dos filhos? Deixar que briguem ou separá-los? Tirar de ambos o objeto de disputa ou ouvir sobre o que começou o desentendimento? Obrigar a ceder? Punir? As experiências dos pais como irmãos ou filhos únicos em suas famílias certamente influência nesse momento, podendo ser revividas de modo a fazer como seus pais faziam em suas casas ou ainda, exatamente o contrário, quando sentiam-se injustiçados frente a intervenção dos pais nas brigas fraternas. Quanto aos pais que são filhos únicos, as fantasias de uma relação idealizada entre irmãos podem paralisá-los frente às brigas dos filhos.
A tendência dos pais é procurar ser justo e retirar a fonte de discórdia ou ainda punir todos os envolvidos, mas isso com frequência tende a dificultar a relação entre os irmãos, uma vez que um deles sempre se sentirá injustiçado com tais condutas. Assim, orienta-se aos pais que não intervenham se não houver agressões físicas ou verbais e, que evitem tomar partido de um filho nas brigas. Quando forem solicitados a interferir ou a situação estiver caminhando para a agressão, é importante que os pais procurem atuar promovendo a empatia, que é capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se na situação dela e, estimulando as crianças a encontrarem as próprias soluções. 
A partir dos quatro anos, quando a criança já começa a possuir a habilidade de se colocar no lugar do outro, é útil pedir que cada um conte ao outro sua queixa. Em seguida, deve-se pedir (e ajudar se for necessário) que se coloque no lugar do irmão e diga como acha que ele está se sentindo. Após isso, se espontaneamente os irmãos não entrarem em um acordo, os pais devem estimular que os filhos sugiram soluções que sejam aceitas por todos, para que possam treinar as habilidades de lidar com as emoções e solucionar conflitos. Se os filhos não conseguirem, os pais podem sugerir opções, regras e combinados sentidos como justos e aceitos por todos. 
No início, as crianças podem ter dificuldade em fazer este exercício de colocar-se no lugar do outro, mas aos poucos vão aprimorando esta capacidade e a levarão para vida adulta e para os diferentes contextos nos quais vierem a se relacionar. Mesmo que leve mais tempo e exija mais dos pais, esta tende a ser a melhor maneira de ensinar os filhos a resolver conflitos e promover o bom relacionamento entre os irmãos. Além disso, é importante que os pais evitem ao máximo a comparação entre os irmãos ou manifestações de favoritismo, devendo mostrar que cada filho tem seu lugar na família e que são igualmente amados, tanto por suas diferenças e qualidades únicas quanto por suas semelhanças. 
Não há motivos para preocupações excessivas quando as brigas se alternam com momentos de carinho e cumplicidade entre irmãos. Mas, quando o desafeto é constante e há risco de prejuízo físico ou psicológico, ou mesmo se as disputas estiverem prejudicando o desempenho social ou escolar de uma das crianças, deve-se buscar orientação de um psicólogo, que irá analisar juntamente com a família as possíveis causas e construir com a mesma possibilidade de intervenção e solução.    

 

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