O FATO E A ÉTICA

Nas acirradas discussões sobre a problemática da Ciência em relação à Religião, sempre se ressalta a excelência da primeira, em detrimento da outra.

É verdade que as descobertas científicas ampliaram os horizontes do Universo, ensejando a compreensão das Leis do Macrocosmo, tanto quanto da vida infinitesimal…

Da mesma forma, são debitados, às diversas correntes religiosas, inumeráveis horrores, guerras de extermínio que se celebrizaram pela impiedade, assinaladas pelo fanatismo ilógico, que responde por genocídios e aberrações que repugnam a razão e a consciência…

O que, em um período, constitui fato comprovado em laboratório, logo depois pode ser demonstrado de forma não conclusiva ou de significação diferente – quando não se torna a confirmação de uma experiência empírica, aplicada por inúmeras gerações – que passou a merecer análise e recebeu  formulação apropriada pela técnica.

De passo em passo, nem sempre firme, têm sido assentadas as bases do conhecimento, ora confirmando informações pretéritas, noutras vezes negando-as.

Igualmente, apoiadas no amor, as Religiões se ensoberbecem e passam de perseguidas a perseguidoras, pregando o “reino dos Céus”, com os pés muito bem plantados nos inexpressivos tesouros e vanglórias terrenas.

A medida que adquirem estabilidade nos corações alargam os seus anseios pela política mundana e passam a comandar destinos, quando a sua finalidade é iluminar consciências e consolar sentimentos.

Reagindo às arbitrariedades de que foi no passado vítima das Religiões, a Ciência emergiu dos porões apoiou-se na lógica e no fato, tombando, porém, no mesmo equívoco da Fé, por adotar a ditadura da Razão, e, embriagando-se de orgulho, passou a opinar com expressões definitivas nas áreas que não pesquisou especialmente nas do Espírito, em reação preconceituosa, infantil, cometendo erros semelhantes àqueles quais se opunha…

Ademais, convém ressaltar que a Ciência é neutra em si mesma, aberta a novas informações e enfoques, sendo, as opiniões, dos cientistas e não dela.

A Religião, de modo idêntico, propugna pelo homem livre, feliz, amoroso, enquanto os religiosos encarceram, constrangem, infelicitam e matam quantos se lhes opõem, desde que as circunstâncias assim o permitam.

Desta forma, não há como negar: há cientistas  e há Ciência, que diferem, assim como religiosos e Religião, que se encontram distantes, pelos postulados que esta preconiza e pela vivência a que aqueles se entregam.

Naturalmente, vão-se diluindo as barreiras separatistas, à medida que o cientista adquire uma ética-moral de comportamento e o religioso se impregna de fraternidade, identificando a fragilidade, bem como a sua ignorância em outras áreas, fora da sua convivência doutrinária.

A Religião, todavia, impõe, com o seu conhecimento, a reforma moral do homem, que a deve alterar para melhor, enquanto à Ciência não é fundamental a vivência elevada, no que diz respeito à conduta do seu pesquisador.

O físico penetra na partícula, compreende-lhe a constituição e, não obstante, pode prosseguir mau cidadão, agressivo ou venal.

O religioso, que se deixa penetrar pela fé, de imediato vê-se levado à alteração de procedimento, mesmo que sinal exterior algum se apresente, chamando à atenção.

Imaginando-se um círculo, o conhecimento da Ciência parte da periferia para o centro, enquanto a visão cósmica da fé, abrangente, origina-se no centro e se aproxima da periferia, na qual esta a radical transformação moral do homem…

A Religião concederá à Ciência, através dos  postulados espíritas, um saudável código de ética, para que se faça o que seja moral com fundamento na realidade do Espírito e não o seja válido, embora em detrimento da Vida…

A Ciência, iluminada pela Religião Espírita, comandará o cérebro, e esta, sob as luzes dos fatos, guiará o amor com segurança, trabalhando juntos pela felicidade das criaturas, que não tardará, porquanto, chega, já, o momento da renovação da terra que a ambas cumpre realizar.

Livro: REFLEXÕES ESPÍRITAS. Vianna de Carvalho (Espírito). Psicografia Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada Editora. 1ª ed. Salvador. BA. 1992.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC. Guaraniaçu – PR.  manoelataides@gmail.com

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