Tempos narcisistas

Desde há trezentos anos mais ou menos, com o surgimento das doutrinas liberais, do iluminismo, do cientificismo, do modernismo, a sociedade humana lentamente vem abandonando a fraternidade decantada na Revolução Francesa de 1789, para assumir uma identidade egoísta narcisista…

                Nos dias atuais, o distanciamento que se apresenta entre os indivíduos leva-os a situações inquietantes, avançando no rumo de problemas graves de comportamento…

                O narcisismo é prática antissocial, que degenera em corrupção moral e insensibilidade emocional.

                Preocupado somente com a sua imagem, o narcisista opera segundo as manipulações que lhe ofereçam resultados lucrativos, elogios e aplausos ilusórios.

                Dominadas pelo capitalismo perverso, as criaturas são educadas para usufruir ao máximo, trabalhando-se em favor do individualismo que se sobrepõe às mais avançadas técnicas proporcionadoras da vida feliz.

                As empresas, insensíveis aos seus servidores (exceções abençoadas) visam apenas ao lucro, atendendo aos impositivos legais, longe, no entanto, da retribuição verdadeira àqueles que fazem parte do seu organismo social. Seus executivos pensam apenas no crescimento e nas rendas da entidade, sendo vítimas periodicamente, dos conflitos econômicos e das oscilações das ações nas bolsas de valores em ascensão e quedas frequentes.

                O objetivo real da vida é proporcionar ao Espírito o desenvolvimento dos recursos divinos nele ínsitos e adormecidos, que são capazes de guindá-lo à real alegria e á saúde integral.

                Olvidando=se esse sentido existencial, o tempo juvenil é gasto no acumular do poder e no fruir do prazer, alcançando patamares de insatisfação e perda de significado psicológico, que levam às fugas espetaculares para o abismo de si mesmo, desidentificando-se da própria realidade…

                Onde predomina, porém, o egoísmo, desfalece o sentimento de humanidade…

                Necessário reverter-se o quadro infeliz, conforme já vem ocorrendo em alguns setores científicos e culturais, inclusive na medicina que recomenta o amor como a mais saudável terapia preventiva e curadora em relação aos diversos males da sociedade antropocêntrica.

                Lentamente  se torna necessária a volta à consideração das coisas simples e puras da existência, aos acontecimentos ingênuos e belos dos relacionamentos humanos, à contemplação da beleza das paisagens, às considerações em relação à Natureza e à sua preservação…

                Descrentes do significado do amor, porque foi confundido com desejo e sexo, os indivíduos redescobrem a fraternidade, a compaixão, a solidariedade, e ressurgem os sentimentos afetivos vitalizando as débeis forças que se consumiram no tráfico das paixões servis…

                A compreensão, portanto, da fragilidade orgânica, das mudanças que se operam em todos os sentidos enquanto se encontra o Espírito no corpo físico, faculta uma visão diferenciada do narcisismo e nasce o desejo de repartir, compartir, solidarizar-se.

                Quem elege a solidão, candidata-se ao abandono.

                Quando se escolhe a solidariedade, encontra-se a retribuição.

                Dizem que o sentido do amor desapareceu por falta de correspondência, por traição e infâmia, por falta de vitalidade.

                A alegação é falsa, porque destituída de significado. Mesmo que alguém não retribua o afeto ou o degrade, isso não significa  a fraqueza do seu conteúdo, e sim a debilidade moral do indivíduo.

                O amor é dinâmico e produtivo. Caso alguém o desrespeite ou lhe traia a confiança, ele permanece intocável, à semelhança da luz solar que beija o pântano e a pétala da rosa, mantendo-se integral, inatingível.

                É inevitável que o narcisismo ceda lugar, na cultura do futuro, nesse vir-a-ser que se desenha para o porvir, sendo substituído pela fraternidade que vigerá nas mentes e nos corações como passo inicial para a plenitude do amor que tanta falta faz à civilização hodierna.

 

Livro: ATITUDES RENOVADAS. Joanna de Ângelis (Espírito). Psicografia Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada Editora. 1ª ed. Salvador. BA. 2009.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC. Guaraniaçu – PR.  manoelataides@gmail.com

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