Um pouco de bom senso, por favor…

Há mais de um ano, numa tarde de sábado, houve um jantar beneficente no pavilhão da Capela Santa Terezinha na Vila das Palmeiras, o bairro mais distante do centro de Laranjeiras do Sul. Antes, porém, o pároco presidiu a celebração de Missa na capela. O ato religioso terminou pelas 20 horas e então todos se dirigiram ao pavilhão, inclusive o padre. A maioria havia adquirido um cartão e alguns números de rifas. Lá estávamos eu e minha esposa Hedwiges e na entrada dois rapazes carimbavam o braço de quem tinha o ingresso. Esse negócio de carimbar a pessoa eu só sabia que era praticado em alguns bailes e discotecas. Também havia um bom fluxo de pessoas, doadores e patrocinadores vindos do centro. Até aqui nada demais. Mas, como o pavilhão foi construído em um lugar escavado e apertado contra um barranco, bem perto da entrada estava estacionada uma caminhoneta MB 608 amarela carroceria alta, daquelas de puxar bovinos para o açougue ou frigorífico. Deve ter transportado gado a semana toda e o dono a estacionou ali sem lavá-la. As pessoas foram entrando uma a uma e sendo carimbadas. No palco, música e animação de conhecidíssimo radialista. O buffet, quando provamos, era gostoso. Parabéns às cozinheiras e aos organizadores, mas o que não se podia ignorar lá dentro, era o cheiro da MB 608, aquela caminhoneta amarela…

 Cada qual pode cometer uma gafe. Na fila, um homem com chapéu de abas largas que quando na vez colocou-o entre as pernas, pegou a colher e começou a revirar toda a comida deixando a fila esperando. Provavelmente estava estreando num ambiente como este. O seu vigário como dizíamos antigamente do pároco, serviu rapidamente um pequeno prato, não permanecendo muito tempo naquele recinto. Com certeza, motivado a se retirar devido ao mau cheiro que exalava da caminhoneta. Na sequência, durante os intervalos de música o animador/ radialista anunciava os ganhadores de prêmios por números da rifa. Até nós ganhamos um pacote da Erva-Mate a vácuo da Mate Laranjeiras. Por volta da meia noite resolvemos nos recolher, não sem antes conferir se a caminhoneta ainda estava no mesmo lugar. Pasmem, lá estava a dita cuja toda rebocada com o portão da carroceria entreaberto dando condições para verificar o que havia lá dentro: caixas de cerveja. Não se precisava mais perguntar pelo dono do veículo que faturava. Mas, certamente conseguiu estragar o apetite de muitos, privando a confraternização entre amigos(as) e conhecidos. Poderia até ter feito isso, mas antes tivesse lavado a caminhoneta. Entendo que freteiros de gado, toras, leite, lenha, erva-mate in natura e afins, ás vezes pecam pela falta de bom senso. Falam alto, estacionam mal, contam vantagens, reclamam do preço do óleo diesel, acelerando sem necessidade. Também fiz parte deles, transportando toras, carvão vegetal, madeira serrada e beneficiada. Conheço como poucos essa vida dura. Trabalhei desde o fim dos anos 1950 com serraria. Comecei com meu pai cuidando da caldeira, atendendo o moinho e descascador de arroz. Conheci muitos tipos de máquinas para serrar e beneficiar madeira, preparando ferramentas e laminando (afiando) serras. Posso dizer que esta vida de lidar com madeira é mesmo pesada. As máquinas prejudicam entre outras coisas, a audição e o indivíduo passa a falar alto, fica nervoso, também já não ouve muito bem. Mas isso tudo não deve levar a pessoa a perder a educação e o bom senso.

  

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