Numa manhã de segunda-feira, anos oitenta, passava em frente a uma livraria quando o proprietário, Renato Cezar Klein (im-memoriam) chamou-me com a finalidade de mostrar-me algo interessante. Havia guardado a edição dominical do jornal Gazeta do Povo que trazia com certa constância textos históricos do lapeano Francisco Brito de Lacerda, e, aquele em especial, era demais interessante tanto para mim como para Renato que era também respeitado professor e gostava de garimpar sobre a nossa história. O texto falava da epopéia que foi o trabalho dos militares que desbravaram o sertão, abriram picadas, fincaram postes de madeira e esticaram a linha do telégrafo de Guarapuava até Foz do Iguaçu. Comandava os militares o engenheiro e militar João Gualberto Gomes de Sá, um dos vultos da história paranaense, morto na Guerra do Contestado que durou de 1912 a 1916. Gualberto e seus comandados permaneceram em nossos sertões de 1904 a 1908, e o escritor Brito de Lacerda citou vários detalhes desse tempo. O comandante fazia-se acompanhar da esposa Leonor, as filhas Júlia e Julieta e o filho João Gualberto Filho. O acampamento montado na mata virgem era mudado quando o trabalho avançava trinta quilômetros e sempre à margem de um rio. Como permaneciam longo tempo no local, plantavam milho, abóbora, feijão, verduras e algum tipo de capim para os animais. No dia 14 de fevereiro de 1904 nasceu Xaguana, assim batizada em homenagem ao rio em cuja margem estava o acampamento militar. No dia 5 de agosto de 1905 nasceu Cecília, em Borman, atual município de Guaraniaçu. Guilherme de Paula Xavier, proprietário rural na região, fornecia aos militares, reses para o abate, queijo, banha de porco e outros gêneros alimentícios. Os militares o tinham como presença constante no acampamento e era considerado bom-garfo. Estabeleceu-se grande amizade entre o fazendeiro e o comandante que resolveu fazer uma brincadeira com o nosso pioneiro. Gualberto teria ido à cozinha do acampamento e feito um prato de omelete, misturando pedaços de rolha aos ovos mexidos. Depois de observar o fazendeiro comer com o apetite de sempre, teria perguntado: Que tal a omelete? Ouviu como resposta: Ótima, como sempre, a linguiça estava um pouco dura! Há alguns anos lendo a Gazeta do Povo, de domingo, Dia das Mães, deparei com uma coluna em homenagem a Dona Xaguana. Segunda-feira, liguei para o jornal e descobri que a autora da coluna era uma jornalista já sessentona, filha de Xaguana e neta de João Gualberto. Quando lhe contei que havia escrito em livro a epopéia de 1904 a 1908, na qual narro os nascimentos de Xaguana e Cecília, ela se manifestou agradecida, pois ninguém da família lembrava o local de nascimento de Tia Cecília que, como escrevi, aconteceu em Borman, hoje Guaraniaçu. Vários descendentes de Guilherme de Paula Xavier residem em Laranjeiras do Sul e uma rua central tem seu nome merecidamente. Em nossa capital, uma praça central é denominada Praça João Gualberto.