QUANDO O FIO DO BIGODE ERA DOCUMENTO

O advogado Xenofonte de Freitas Lopes, observador arguto, que veio de Caçapava do Sul-RS na época em que Laranjeiras era a capital do Território Federal do Iguaçu deixou um importante legado para a nossa história. Lopes anotou em seus escritos que nunca como naquela época se teve uma dimensão tão exata do que seja a família.

Sempre bem constituída, começava pelo namoro, sempre à vista dos pais, fiscais severos dos bons costumes. Os namorados encontravam-se, em geral, nos bailes em casa de família, ou então nas festas religiosas. Vestido longo, mangas compridas, as moças eram levadas em carroças e quando tinham de ir a cavalo, usavam o selim.

Este, era um aparelho de montaria, às vezes com certo luxo, forrado de cetim e que tinha estribo de um lado e encosto para apoiar as costas, pois as moças iam sentadas com o pé no estribo para firmar-se. Uma espécie de roupão muito rodado cobria até os pés das viajantes. Nos casamentos, os noivos compareciam em carroças, com grande número de convidados, destes, muitos a cavalo. Os cavalos eram ajaezados com muitos guizos e fitas coloridas nas cabeçadas e, com a andadura dos animais, os guizos produziam um som impressionante.

Foguetes espocavam em todo o trajeto e às vezes algum convidado mais animado sacava da garrucha e disparava tiros de pólvora para o ar. Depois do casamento e do retorno à casa da noiva, vinha o almoço ou o jantar, sempre fartos em comida, porém sem excesso de bebida. Churrasco na brasa, ou leitões, galinhas e patos, assados nos fornos a lenha, faziam parte do cardápio costumeiro.

A festas eram iluminadas por lampiões a querosene que, anos depois ganhou um melhoramento: um tubo de vidro, afunilado e aberto na parte superior para permitir a saída do calor e da fumaça que mantinha o lampião aceso mesmo no vento. Mais tarde vieram os petromax, que às vezes entravam em pane pela queima da camisa.

Quando a pessoa ficava a noite inteira num baile ou velório, em sala pequena e fechada, iluminada por lampião a querosene, no dia seguinte, quando limpava o nariz, trazia grande quantidade de fuligem negra. Os presentes eram poucos por ocasião dos casamentos.

Geralmente a noiva recebia uma leitoa ou uma novilha para começar a vida. Havia poucas opções no comércio local incipiente, mas anos mais tarde já era comum se presentear com os jogos de 6 xícaras para café. Como havia pouca escolha, quatro ou cinco convidados acabavam dando o mesmo presente.

Quando algumas famílias polonesas já haviam se estabelecido em Laranjeiras, os pioneiros tiveram acesso aos casamentos mais animados e com algumas tradições próprias. A noiva ao chegar em casa, recebia uma broa (símbolo da fartura) que cortava ali mesmo na porta e distribuía aos convidados. Nestas festas já era servida a cerveja feita em casa. Xenofonte Lopes escreveu que os costumes eram severos e havia mais paz, menos violência e nada de malandragem. O fio de bigode era documento.

 

Deixe um comentário