A possível greve dos caminhoneiros é o assunto que vem assustando a todos, inclusive aos próprios caminhoneiros, àqueles que estão com os caminhões carregados em pátios de postos de gasolina, esperando uma decisão das lideranças do movimento, para somente assim poderem seguir viagem atrás de seu sustento.
Depois de maio de 2018, houve várias outras ameaças de novas greves, nunca concretizadas. E as divisões internas da categoria lançam uma série de incertezas sobre a paralisação prometida para esta semana. Há entidades e líderes dispostos a parar e que garantem a realização da greve, enquanto outros vêm dialogando com o governo federal e rejeitam a hipótese de cruzar os braços.
Em 2018, o então deputado federal e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro apoiou o movimento e teve como retribuição o apoio dos caminhoneiros; agora, tendo passado de pedra a vidraça, o presidente está na incômoda situação de ter de negociar com a categoria. Para apaziguar os ânimos, zerou os impostos de importação sobre pneus para veículos de carga e incluiu caminhoneiros como grupo prioritário na vacinação contra a Covid-19. Mas seu espaço de manobra está acabando. Bolsonaro retomou a retórica de um ano atrás, quando prometeu zerar os impostos federais sobre combustíveis se os governadores fizessem o mesmo com o ICMS – o que não vai ocorrer, até porque tais atos teriam consequências dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal; além disso, o peso dessa renúncia para os estados seria muito maior que para a União, o que torna o desafio um tanto desigual.
Ainda que não haja greve, a insatisfação dos caminhoneiros não diminuirá. E eles sabem do estrago que podem causar, pela enorme dependência brasileira do modal rodoviário.
Esperamos que tudo se resolva sem que o país pare e sofra com o desabastecimento como aconteceu a dois anos atrás. É necessário bom senso não só do governo, mas especialmente dos manifestantes, afinal muitos caminhoneiros querem continuar trabalhando e ninguém tem o direito de impedi-los.