O discurso mudou

Ao conversar com muitos prefeitos da região, percebemos o descontentamento deles com o governo federal, com relação à vacinação e ao pouco caso feito uma pandemia. Mesmo que estes chefes do Executivo não façam declarações públicas – pois ainda existem aqueles eleitores cegos – fica evidente a crítica e o sentimento de que as coisas poderiam ser diferentes a essa altura do campeonato se o presidente tivesse um pouco mais de senso, empatia e respeito logo no início.

Agora o discurso de Bolsonaro mudou, mas isso não muda o fato de que perdemos milhões de vidas e vamos perder ainda mais.

“A vacina é nossa arma”, dizia o texto colocado sobre uma foto do presidente Jair Bolsonaro, publicada pelo filho Flávio nas mídias sociais. No Palácio do Planalto, ao sancionar lei que facilita a aquisição de vacinas, inclusive pela iniciativa privada, Bolsonaro prometeu 400 milhões de doses até o fim do ano – o que bastaria para imunizar praticamente toda a população acima de 18 anos, considerando a aplicação de duas doses por pessoa. O Ministério da Saúde acabou de fechar acordo para comprar 10 milhões de doses da vacina russa Sputnik V e ainda negocia com a Pfizer. Antes tarde do que nunca, o governo acordou para a necessidade de vacinar a população.

Teria Bolsonaro finalmente se convencido? Este é o presidente que, dias atrás, mandava os que pediam mais vacinas comprá-las “na casa da tua mãe”; que celebrou a morte de um voluntário da Coronavac; que rejeitou a possibilidade de adquirir antecipadamente dezenas de milhões de doses da vacina da Pfizer, aquela que transformaria as pessoas em “jacaré”; que pediu a cota mínima no consórcio mundial Covax, quando tinha a chance de garantir vacinas para metade da população; que afirmou não haver justificativa para a “pressa” por ter vacinas disponíveis. Ou estamos diante de uma mudança radical (e extremamente bem-vinda) de mentalidade, ou tem a ver com a corrida presidencial em 2022.

Se Bolsonaro passou a promover as vacinas por convicção ou por mero cálculo eleitoral, pouco importa, desde que as vacinas cheguem o quanto antes, na quantidade necessária. O presidente não precisa acreditar piamente no seu discurso pró-vacina, basta que o coloque em prática com eficiência, em coordenação com estados, municípios e iniciativa privada, finalmente aproveitando toda a experiência brasileira em campanhas de vacinação em massa.

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