Conta a lenda que certa mulher pobre com uma criança no colo, passou diante de uma caverna e escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia:
“Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa : Depois que você sair, a porta se fechara para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do principal… ”
A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas jóias, colocou a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa falou novamente: “Você agora, só tem oito minutos.”
Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou… Lembrou-se, então, que a criança lá ficara e a porta estava fechada para sempre!
Já é notório a todos nós, pertencentes dessa sociedade, a característica atual de valorizar mais o ter do que o ser, mas refletindo sobre essa lenda, podemos analisar que em algum momento da vida, que é essa caverna cheia de oportunidades e oferecimentos, gastamos muito tempo correndo atrás dos bens materiais e nos esquecendo de bens maiores e mais preciosos, como: família, valores, vida espiritual, amizades e amor. Por vários períodos, nos enfurnamos na caverna, correndo sério risco de nos esquecermos e perdemos o que de fato é importante.
A filósofa Lúcia Helena Galvão disse que os bens só são bem, quando melhoram a nossa qualidade de vida. Os bens materiais fazem parte da nossa conquista, e nos propiciam melhor qualidade de vida, mas quando eles passam dessa esfera, é que se tornam problemas, por exemplo, você mora sozinho numa casa de um quarto, é apertada, fica difícil receber um hóspede, então se constrói uma com dois quartos, até aí ok, atende a necessidade, e melhora a qualidade de vida, mas almeja-se e corre atrás de construir uma com três, quatro, cinco, seis quartos, daí já deixou de ser uma melhora da qualidade de vida, pois o número excessivo de quartos não contribui mais na melhora da qualidade da sua vida, e assim é com carros, roupas, sapatos e com o próprio dinheiro, quanto mais se tem, mais se quer, mesmo quando já deixou de ser em prol de uma vida melhor, e passou a ser o poder de tê-lo cada vez mais. E nesse momento, poucos percebem que não é mais ele que tem o dinheiro, mas o dinheiro que o tem, já que ele vive em prol do mesmo.
Uma psicóloga tanatóloga (especialista em morte), depois de uma pesquisa, fez o seguinte relato quanto mais materialista a pessoa é, menor a possibilidade de clareza diante da morte, concordo, já que diante da morte essa pessoa percebe ou se depara com a verdade que, tudo que passou a vida inteira conquistando está ficando para trás agora, que tudo que tinha imenso valor, agora é imprestável, pelo menos incapaz de mudar a realidade que é inerente, a chegada da morte, e isso dificulta muito a pessoa ‘aceitar’, essa realidade. Parece sombrio e assustador, mas é a verdade limiar, por mais que tenhamos nada levaremos.
Então a busca por possuir cada vez mais, só se justifica até o ponto em que o objetivo é a melhora da qualidade da sua vida e/ou das pessoas que você ama. Contudo, é importante não perder o foco do que é verdadeiramente importante, pois a porta da ‘caverna’ fecha para todos e o que teremos esquecido ou perdido, pode ser o que de fato importa. E o fechamento da porta nem sempre é a morte, pode ser a simples perda, como relata a lenda e então restará a solidão e o desespero.