BRANDOS E PACÍFICOS Obediência e resignação

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. (Mateus, 5).

A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras  da doçura e muito ativas, se bem as pessoas erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes.
    Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifício e da renúncia carnal.
    Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. 
    A virtude da vossa geração é atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto que atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. 
    Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! Porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. (Lázaro, Paris, 1863)…
    Segundo a idéia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o ser humano se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados.  É assim, por exemplo,  que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre de desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. É ainda ma conseqüência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.
    Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida  a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; somente, a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secunda a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva.
    O corpo não dá a cólera àquele que não a tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito porque o Espírito nisso não pode atuar; mas, pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas?
    Compenetrai-vos, pois, de que a pessoa não se conserva viciosas, senão porque quer permanecer viciosa; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o ser humano a lei do progresso. (Hahnemann. Paris, 1863).

Do Livro:  – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO.  Allan Kardec. FEB. Rio, RJ. 115ª ed. 1998. 
Manoel Ataídes Pinheiro de Souza – CEAC Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com
 

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