Mordomos e não donos…

Na região da Galiléia, porém, ante a placidez domar, quebrada somente pelas tormentas periódicas, respirava-se ingenuidade, resignação e alguma fraternidade…

                Foi nesse cenário de gentes simples  e desataviadas, que a sinfonia do Evangelho esplendeu em toda a sua majestade e beleza.

                Entre pescadores que amavam a labuta do mar, vinhateiros que se afadigavam pelo cultivo da videira, curtidores de lá animal afeiçoados à fabricação tosca de tecidos, Ele encontrou o coração do povo que abriu a sua acústica para ouvir a melodia da esperança…

                … E as parábolas espocavam dos Seus lábios como flores do campo, naturais e formosas.

                Um delas informava que se tratava de um homem rico, que possuía um mordomo, que foi acusado de estar utilizando-se em benefício próprio dos bens que não lhe pertenciam.

                E porque tudo indicasse a realidade infeliz da sua conduta, o amo chamou-o e pediu-lhe que prestasse contas da sua mordomia, porquanto já não tinha condições de merecer fé nem respeito.

                Surpreendido pela atitude severa do amo, o infiel começou a conjecturar  a respeito do futuro que lhe estava reservado, constatando não possuir recursos para o exercício de uma outra função, que lhe exigisse esforço e luta. Então, desonesto como era, convidou um dos devedores do seu patrão e perguntou-lhe: – Quanto deves ao meu senhor?

                Informado que eram cem cados (Palavra Semítica – vaso de barro para medir líquidos, cem cados ou batos: 3.500 lt) de azeite, propôs-lhe que anotasse apenas metade, comprometendo-se a pagá-los. O mesmo fez em relação a outro devedor, que informou serem cem coros (37.000 litros) de trigo, indicando que anotasse apenas oitenta e não deixasse da pagar.

                Com essa atitude, o sagaz agradou aos devedores, que lhe ficaram amigos, mas também poupou o seu senhor de grandes prejuízos, garantindo-lhe o recebimento de parte das dívidas. Em face dessa astúcia, o amo também o estimou, porque essa atitude era compatível com aqueles outros desonestos que se comportavam da mesma maneira, muito diferente dos filhos da luz.

                Após silenciar por um pouco, a fim de que os ouvintes pudessem captar o conteúdo do ensinamento, Ele arrematou, enfático: Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça, para que, se estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.

                Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, quem é injusto no pouco, também é injusto no muito.

                Se, pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?

                Ele fez uma grande pausa, perpassando o olhar sobre a massa em meditação, logo prosseguindo: Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

                Os fariseus, que eram gananciosos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele.

                As riquezas da injustiça constituem os recursos que a sagacidade consegue, amealhando para outrem enquanto acumula também para si.

                Impossibilitado de ser honrado no cumprimento dos deveres que lhe dizem respeito, o indivíduo utiliza-se dos bens que pode reunir, compensando a própria astúcia com os valores que supõe pertencer-lhe.

                Esse comportamento reserva-lhe meios de sobrevivência para o futuro, mas não lhe granjeia a paz de consciência, pelo reconhecer da falibilidade moral e defecção espiritual…

                Quem deseja a Vida Eterna, certamente terá que despojar-se da ambição enganosa dos valores transitórios, porque em serviço de autoiluminação, necessita despojar-se de toda sombra interior, enquanto caminha pela senda humana.

                Mordomos, todos o somos dos haveres divinos, que nos cumpre prestar contas com fidelidade, a fim de sermos credores da confiança em relação aos eternos recursos da Paternidade Celeste.

Do Livro: A Mensagem do Amor Imortal. Amélia Rodrigues (Espírito). Psicografia de Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada. – Salvador-BA. 2008.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza, CEAC Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com.

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