Teus olhos

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Se teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz”. Jesus (Mt. 6:22)

É indubitável a força com o verbo evangélico penetra-nos a estrutura da existência terrestre, concitando os indivíduos ao necessário progresso na esfera moral, nos trilhos da sua evolução.

Aqui, assinalamos exuberante expressão do Divino Amigo, capaz de nos abrir o entendimento para questões de subida importância, de grandeza imbatível.

Ninguém, em franco exercício do juízo, suporá que, nas alusões de Jesus, estejam referências acerca dos órgãos físicos, responsáveis pela visão, apenas por ter Ele se reportado aos olhos.

É certo que, dentro do interesse que tinha de que a Humanidade se renovasse, por meio da prática do bem excelente, viesse convocar-nos à nova linha de pensamentos e apuradas meditações. Em nenhuma circunstância os olhos físicos terão possibilidades de transformar o corpo num foco de claridade, até porque tal brilho não é apanágio da construção somática.

Há que se pensar em termos espirituais.

Entendemos por “ver” a condição de observação e análise das coisas que nos cercam, que, certamente, estará estribada no nível de progresso, de madurez, em que se encontra cada um…

A partir disso, não teremos dificuldades de perceber que os homens que pensam mais alto, efetuam sobre as coisas de seu caminho uma análise bem distinta daquela feita por indivíduos de pouca maturidade ou de condição moral deficitária.

Para quem “vê” as coisas em razão do próprio cultivado imediatismo, o delinquente juvenil, ou infanto-juvenil e o adulto não passarão de celerados, passíveis de castigo da lei humana, ainda que promovido pelas mãos dos que se julgam lesados.

Para quem tem “olhos bons”, não passarão, tais delinquentes, de crianças ou moços que não tiveram orientação capaz de libertá-los da ignorância e da viciação. O adulto não será mais aquele que atingiu o estágio do corpo crescido, embora guarde a alma crestada pela frustração social, envenenada pela revolta em face das múltiplas e torpes injustiças sociais, que jamais lhe conferiram o mínimo direito de viver nobremente, com seus próprios recursos.

Sem que desejemos aplaudir o erro ou agasalhar o descompasso moral, todos esses não passam de irmãos, carentes de todos os matizes precisando de educação e amparo, orientação e trabalho enobrecido para que se possam renovar.

Para os olhos comuns, a alma de mulher que se bandeou para a venda das sensações do corpo, não passa de alguém com as marcas da prostituição, merecendo a execração pública, por isso.

Entretanto, para os que têm “olhos bons”, essa companheira não será senão nossa irmã, atormentada por obsessões vorazes, tendo-se deixado explorar por mentes degeneradas do Além ou mesmo do mundo terreno, passando a admitir, equivocada, que tem que ser por esse expediente a conquista da vida que almeja.

Sem pensar em louvar as práticas do meretrício, apareçam como apareçam, que corroem todos os que nelas se envolvem, não podemos desconsiderar que os implicados carecem de atenção, respeito e da onda suave das nossas orações, quando não conseguimos atendê-los com a abençoada orientação.

Perante os de vista comum, tantos quantos se bandearam para as valas da dependência toxicomaníacas são viciados, irredentos, que somente as celas da prisão conseguirão deter, em face do mal que acarretam para si e que veiculam para a sociedade.

Contudo, para os que tenham “olhos bons”, são eles os irmãos de luta terrestre que não suportaram o enfrentamento dos próprios conflitos e desejaram fugir de si mesmos ou experimentaram novas sensações, havendo sucumbido ante o império da dependência. Jamais proporíamos o aconchego dos abusos, a ocultação do tráfico sórdido ou o pieguismo para os comprometimentos nessa pauta.

Mas, é-nos necessário notar-lhes a ânsia de apoio, de arrimo, para que se evadam da loucura tóxica, buscando os caminhos do reequilíbrio. Esperam mão amiga que os reerga. Aguardam o tratamento corretivo da Medicina, da Psicologia, e da Religião, ainda que já não tenham voz para rogá-lo por si mesmos…

A partir dessa atuação dedicada ao desenvolvimento da “boa visão” ou dos “olhos bons”, os indivíduos alcançarão, gradualmente, o estágio de progresso, marchando para os píncaros da evolução espiritual, capaz de propiciar, em face da Lei Natural, a luminescência do corpo perispiritual, capaz de propiciar, em face da Lei Natural, a luminescência do corpo perispiritual, que, com certeza, estará refletindo o crescimento logrado pela alma que, fugindo à irreverência ou impiedade, consegue ajustar-se à seara do amor, do bem e da paz com olhos de compreensão, para um mergulho na própria luz.

Livro: Cintilação das estrelas. Camilo (Espírito). Psic. José Raul Teixeira. Editora FRÁTER Ltda. Niterói – RJ. 1992.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC, Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com