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A. J. Cronin, repórter e escritor inglês, entre tantas pérolas, nos deixou relatos de sua experiência, quando em visita à cidade de Verona, na Itália.
Verona se tornou mundialmente conhecida, em especial por ser o palco do drama do infeliz casal Romeu e Julieta, idealizado por Shakespeare.
Em férias com a esposa, Cronin conheceu dois meninos: Nick, de doze anos e o irmão, de dez anos.
No primeiro contato, eles lhe ofereceram morangos. Segundo o menorzinho, eram os mais doces morangos de toda a Itália.
Acondicionados em uma cesta de vime, eram convidativos. E o escritor pagou muito mais do que valiam no mercado, porque a fala do garoto o seduziu.
No dia seguinte, ao sair do hotel para um passeio turístico, surpreendeu-se. Os irmãos estavam à porta. Um anunciava as manchetes do jornal, o outro vendia os exemplares aos interessados.
À tarde, os dois continuavam suas vendas. Agora, eram cartões postais.
Cronin se encantou com a maleabilidade com que transitavam de uma para outra tarefa, parecendo experts em cada uma delas.
Acabou por contratá-los como cicerones, para o domingo, em que desejava alongar-se nos passeios pelas cercanias da cidade.
Quando eles chegaram, quase não os reconheceu. Estavam com roupas impecáveis, o cabelo bem penteado.
Pareciam dois cavalheiros saídos da tela de um pintor impressionista.
Tomaram o táxi e os meninos foram estabelecendo o roteiro.
E foi assim que Cronin descobriu que eram órfãos. Trabalhavam arduamente, todos os dias da semana, para pagar tratamento especializado para a irmã, de quatorze anos, internada em clínica particular. Domingo era o dia em que a visitavam, religiosamente.
Por isso, enquanto pararam, por algum tempo, na clínica, Cronin e a esposa foram direcionados para a cafeteria próxima.
Filhos de uma cantora e de um maestro, depois do acidente que a ambos vitimara, haviam ficado sem lar.
Quando se manifestou a enfermidade na irmã, dispuseram-se a trabalhar até a exaustão para que ela tivesse o adequado tratamento.
Quando Cronin deixou Verona, a caminho de casa, endereçou um envelope Aos cavalheiros de Verona.
Dentro, havia uma quantia superior ao que eles conseguiriam em dois meses de suas incansáveis jornadas.
Dez anos depois, retornando a Verona, Cronin buscou os meninos. Na clínica, soube que a irmã se recuperara e que os três haviam emigrado para Veneza.
Seu objetivo: estudar, se ilustrar, crescer. Conseguiriam?
O repórter lembrou a garra de Nick, do irmão e concluiu: Com certeza, terão êxito.
Alegria de viver, bom ânimo, disposição para vencer todos os percalços, eis a grande lição dos meninos de Verona.
Poderiam ter se entregue à mendicância ou a furtos. Optaram pelo trabalho digno.
E quando a enfermidade atingiu a irmã, ei-los, mais do que nunca, dispostos a arcar com as despesas.
Nada lhes constitui obstáculo. Um objetivo deve ser alcançado e eles batalham para isso.
Um extraordinário exemplo para nossas vidas, a fim de que não nos deixemos abraçar pelo desânimo, nem nos acomodemos ante situações adversas.
Sigamos por este caminho.