A mulher bateu à porta da rica casa. Estava grávida e já se avizinhavam os dias de dar à luz.
A dona da casa veio atender, portando no olhar a serenidade dos dias vencidos e das dores suportadas.
Dona, lhe falou a gestante, quer ficar com o meu bebê?
E antes que a outra se recobrasse do susto da inesperada oferta, prosseguiu:
Não o quero. Não tenho lugar para ele em minha vida. Engravidei sem querer e não posso sustentar outra boca.
Pesa-me a barriga e anseio for liberar-me da carga. Se a senhora não o quiser, não sei o que farei. Já o ofereci a mais de duas dezenas de pessoas. Ninguém o quer.
A mulher bondade convidou a ofertante a entrar. Fê-la sentar-se. Serviu-lhe um café reconfortante.
Instigada, aquela lhe narrou sua história de desacertos, desde a juventude mais tenra. A síntese é de que via no filho em gestação um estorvo, um problema a mais.
A mulher carinho falou-lhe da bênção da maternidade e da reencarnação. Maternidade é uma das mais nobres missões conferidas ao ser humano.
O Pai e Criador confia uma das estrelas do Seu Universo à guarda de um outro ser.
Pela lei da reencarnação, o Espírito imortal tem a possibilidade de resgatar erros, crescer, ascender.
A mulher ternura lhe falou de como o Espírito, preso ao corpinho em formação, tudo percebe, tudo sente, tudo sofre.
Ele suspira oportunidade, tempo e atenção. Precisa de carícias, de ouvir a voz de quem o gera a lhe murmurar acalantos, aguarda a mão da ternura a lhe rociar a pele frágil.
Ele espera tanto. E tão pouco.
A mulher renúncia lhe falou das noites insones e dos sorrisos empós. Dos choros da febre, da manha e dos balbucios dos vocábulos primeiros.
Dos chutes quando ainda no ventre, em seus movimentos de acomodação. E da insegurança dos primeiros passos.
Ele tem tanto para dar.
Por que confiá-lo a outrem, se a Divindade lho oferta?
A mãe foi despertando na gestante. Num gesto quase mecânico, acariciou o ventre bojudo e sentiu os movimentos do bebê.
Que desejaria ele dizer? Não me abandone, cuide de mim. Estreite-me em seus braços. Venho para com você aprender o alfabeto do amor.
Não me dê a ninguém. É do seu carinho que preciso.
Quando a tarde morreu, a gestante retornou ao seu lar, com a esperança a tremeluzir no olhar.
A mulher doação a auxiliaria e ela teria o seu filho, conduzindo-o no mundo.
Dividiriam as dificuldades e somariam esforços. Permitiriam que se multiplicassem as oportunidades de regeneração, para que diminuíssem as dores.
E se a soma dos problemas parecesse suplantar as forças, sempre poderiam contar com o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe.
* * *
Os filhos não são realizações fortuitas. São filhos de Deus em jornada evolutiva, seguindo hoje ao seu lado, sob a direção das suas experiências.
Quando um filho enriquece um lar, traz com ele os valores indispensáveis à própria evolução.