Carregando o elefante

Antes de qualquer consideração sobre a obra “Carregando o elefante” preciso evidenciar o motivo que me levou a lê-la. São duas as razões: A principal é de ela ter como um de seus autores, o atual secretário de educação do Estado do Paraná, o empresário Renato Feder, o que me aguçou a curiosidade em saber o teor de tal escrita, embora o título já tornasse isso evidente. O segundo motivo, é que penso ser necessário estar informado sobre a forma de pensar de pessoas, grupos, movimentos ou partidos políticos cujo ideário antagônico se expressa em suas ações na sociedade, portanto, ler as obras e autores que embasam sua concepção de sociedade, de país e de mundo é vital.

            Costumo dizer que toda pessoa progressista precisa ter a compreensão da forma de pensar de quem lhe faz a oposição quanto ao modelo de sociedade. Penso que é preciso estar “dentro da mente do inimigo” para melhor conhecê-lo e combater sua ação. Dessa forma, leio muitos livros de autores cujo ideário discordo veementemente. Ao fazê-lo procuro manter o distanciamento científico/ideológico no processo de síntese (fazendo anotações) e, apenas num momento posterior exerço a crítica. É importante que eu diga que uma análise acurada do livro embasada no método científico resultaria num artigo científico, quiçá uma monografia. Não é o que pretendo, pois, nem este é o espaço para tal.

            O título da obra se refere à forma de pensar dos neoliberais que afirmam ser o Estado, lento, grande e pesado demais. Pregam, portanto, o Estado Mínimo. Nenhuma atividade considerada de interesse econômico da iniciativa privada deve ser executada pelo Estado. Há uma crença exacerbada e fantasiosa de que a iniciativa privada é a solução para todos os males da sociedade, o que na obra em questão, beira ao fanatismo, pois não traz demonstrações científicas de tal fato. É importante dizer que uma obra que tem a pretensão de “consertar” o país deveria se pautar no método científico, pois, não se conserta um país com opiniões ou “achismos” carentes de embasamento teórico. Não há na obra, um campo específico para citação das referências bibliográficas (fontes) e, embora ao citar algumas fontes (autores ou instituições) no corpo do texto, não fornece os dados específicos para a verificação das mesmas. O livro tem muitas simplificações e generalizações, mas, possui alguns momentos de lucidez. O problema é que após acertar uma vez no alvo, no parágrafo ou item seguinte, os autores voltam a apontar para a Lua ao fazer sugestões tresloucadas.

            Há muitas obviedades e, em algumas oportunidades os autores parecem pretender reinventar a roda. Abundam também verdades parciais resultantes de informações equivocadas ou interpretadas de forma a sustentar algo como fato, quando se trata de mera interpretação fortemente embasada na ideologia que povoa a mente dos autores. A obra traz a citação de vários aforismos (de vários autores) que convergem na direção do ideário que a fundamenta utilizados como sustentáculos. Melhor seria se houvesse a citação do pensamento científico de autores que dessem corpo teórico de sustentação ao ideário defendido na obra por Ostrowiecki e Feder. É importante lembrar que a obra foi publicada em 2011, quando um partido social-democrata (Partido dos Trabalhadores) se encontrava no Poder, sendo talvez uma motivação a mais para a crítica ao Estado de Bem-Estar Social proposto na Constituição Federal de 1988, apesar de sua esquálida envergadura.

            Os autores também demonstram viver numa bolha social e desconhecer a realidade socioeconômica de grande parte da sociedade brasileira. Algumas de suas sugestões podem ser constatadas pelas pessoas portadoras de consciência humanitária, social e de classe como desumanas e elitistas e, não apenas contrárias ao pensamento politicamente correto. Trata-se de um discurso panfletário, simplista e generalizante acerca dos supostos males do Estado de Bem-Estar Social ante a promessa do Paraíso Neoliberal para os capitalistas e que se constitui no Inferno dos excluídos da dignidade humana e dos meios de produção. Digo que discordo fortemente do teor de grande parte das sugestões dos “Carpinteiros da Pátria”, mas, que considerei sua leitura de grande valia, afinal, é bom estar dentro da mente do inimigo do Estado de Bem-Estar Social brasileiro, esse paliativo tupiniquim, porém, tão necessário ante a miséria de nosso povo!

Referência bibliográfica:

Título: Carregando o elefante.

Autor: Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder.

Editora: Hemus, 2011, 1ª edição,188 pág.