Memorial de Maria Moura

Este escriba não para de se surpreender positivamente com a região nordeste brasileira e seu povo. De que é feita esta gente que tanto contribui para a cultura brasileira? E neste momento de Olimpíadas, também para o esporte? Não esqueço que em meus tempos universitários fui a um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) e nele vi e ouvi o quanto os jovens nordestinos eram mais politizados no que nós da região sul do Brasil. Penso que o nordestino, por sua forma de ser, não veio a este mundo a passeio, agarra-se a vida, pois, a vida na terra nordestina exige coragem e energia. A vitalidade, a coragem e a energia nordestina que empregada na cultura emociona os espíritos mais frios e cujos exemplos maiores estão na enorme lista de artistas de grande destaque na literatura, na música, na dança, no teatro, na TV e no cinema. Obrigado à Deus, à natureza, às forças cósmicas do universo por forjar o nordestino, esse país seria muito menor se não contasse com sua gigantesca contribuição cultural.

            A cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) foi jornalista, cronista política, tradutora, escritora, romancista e dramaturga. Este escriba tinha conhecimento de ter sido ela a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL) (que anteriormente seguia um regulamento inspirado na congênere francesa, no qual mulheres nela não podiam ter assento, hoje isso soa ridículo, mas em um tempo não tão distante, mulheres não podiam votar e ainda hoje recebem salários 30% inferiores aos de seus colegas homens para realizar o mesmo trabalho) e de suas principais obras, mas, não tinha lido nenhuma. Eis que resolve ler o livro “Memorial de Maria Moura” e somente não o lê de um fôlego só porque trata-se de um calhamaço e, apesar de saber que tal livro tinha sido adaptado pela TV Globo em uma minissérie não a assistiu, algo que agora pretende fazer.

            Rachel de Queiroz nunca se proclamou feminista, porém, suas obras contam com personagens femininas de caráter forte. A obra conta com três narradores: a órfã Maria Moura, sua prima Marialva e o Beato Romano sendo que os capítulos se alternam sob tais narrativas. A trama traz como ingredientes, sentimentos que vão da paixão ao ódio, a traição, o egoísmo, a ganância pelo dinheiro, a ambição pelo poder (liderança) e a luta contra as convenções sociais de seu tempo nas quais a mulher era (e ainda é) oprimida. Segundo Rachel de Queiroz, a personagem foi inspirada na poderosa Rainha Elizabeth I (1533-1603) da Inglaterra, por isso, a ideia de retratar uma mulher com grande poder. Cearense, ambientou a trama no sertão nordestino (não é possível saber em qual parte deste) na forma de uma jovem órfã que na luta em defesa das terras que herdou, constrói nestas uma casa forte, uma espécie de quartel general ou alojamento para o seu bando que ao estilo do cangaço, promove assaltos e elimina seus inimigos. Maria Moura, portanto, não é o que se pode chamar de uma heroína. Sua prima Marialva, contra a vontade de seus irmãos, foge e casa com um saltimbanco, indo mais tarde morar na Serra dos Padres, nas terras de sua prima Maria Moura. A personagem Beato Romano é o nome criado por um padre que caiu em tentação e passa a vida fugindo e espiando seus pecados. Paro aqui! Fica a dica!

Sugestão de boa leitura:

Título: Memorial de Maria Moura.

Autor: Rachel de Queiroz.

Editora: José Olympio, 2021, 23ª edição,504 pág.

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