Senna x Piquet no Brasil da polarização

Há algum tempo li/assisti debates nas mídias sociais  acerca da eterna discussão sobre quem foi o melhor piloto brasileiro na Fórmula 1. Nas discussões, especialistas e amantes do esporte apresentavam seus argumentos enquanto imagens de disputas nas pistas entre Ayrton Senna (1960-1994) e Nelson Piquet eram exibidas. Os contendores também lembraram as desavenças entre os dois pilotos. Houve a citação de uma entrevista em que Senna foi cobrado por seu desaparecimento da mídia (após Piquet ser campeão) tendo ele respondido que se afastou para dar espaço para Piquet aparecer. Em várias oportunidades Piquet teceu críticas a Senna e inclusive ataques à sua honra. Não pude deixar de questionar-me: como esses fatos dizem respeito a algo do passado distante, por que ainda hoje há debates tão acalorados em defesa de um ou de outro?

Intrigado, comecei ler os comentários das pessoas que leram/assistiram tais matérias e concentrei-me naqueles mais agressivos que eram em sua maioria dirigidos em desfavor de Senna. Constatei que quase todos eram perfis de apoiadores de Bolsonaro e que as alegações eram baseadas em valores emotivos (não racionais), pois não eram fundamentadas em dados estatísticos quanto ao aproveitamento de cada piloto. Lembrei-me de várias reportagens que li/assisti sobre Piquet que sempre fez o estilo “bad boy” desde os rachas da juventude na ruas de Brasília até sua carreira na Fórmula 1. Lembro que certa vez Piquet ganhou o “Prêmio Limão” por ser escolhido pelos jornalistas como a personalidade mais antipática no trato com a imprensa. Piquet em reportagens recentes disse que os jornalistas eram muitos burros e não entendiam nada do esporte. Piquet várias vezes dirigiu críticas à TV Globo, que abraçou Senna. Ayrton Senna fazia o estilo “bom moço” e era muito simpático com os jornalistas, Piquet, porém afirmava que Senna se utilizava de esperteza (estratégia de marketing) junto à imprensa.

Ao visitar os perfis dos bolsonaristas fãs de Piquet,  tive a certeza que com ele  se sentiam identificados e supus que gostavam do seu estilo “bad boy”. Até aquele momento (apesar de supor) não havia encontrado nenhuma fala de Piquet em apoio a Bolsonaro (agora há).  Essa dúvida acabou quando a TV mostrou Piquet dirigindo o Rolls Royce presidencial que conduzia Bolsonaro no último desfile do Dia da Pátria. Passei a me questionar sobre Senna, caso vivo estivesse, qual seria seu posicionamento (ante essa polarização)? Hoje sabemos que Senna sem publicizar contribuía com obras de caridade, mas, jamais se posicionou em favor de uma corrente política. Suponho que assim continuaria, falando de automobilismo e contribuindo com obras de caridade, porém, jamais emprestaria seu prestígio para alavancar alguma corrente político-partidária e, sabemos, o voto é secreto. Não tive,  com este artigo, a intenção de afirmar quem deles foi o melhor, porém, a estatística mostra que Piquet (apesar de ser um piloto formidável) é quem teria que ir ao encalço de Senna (não o contrário), porém (como ser humano) Senna (em vida) fez várias voltas de vantagem sobre Piquet!