Chegando ao poder pela primeira vez (parte 1)

Lula não conquistou pela primeira vez em 1989 o mais alto posto da hierarquia do país, alavancando por triunfos eleitorais.

Jamais foi vereador e nunca administrou uma cidade. Também não se elegeu governador de Estado nem foi ministro de nada. Construiu sua vitória à base de derrotas. E, por meio delas, forjou o que é hoje. Sua primeira tentativa eleitoral, para o governo de São Paulo, se deu em 1982 e foi um jato de água fria no entusiasmo do político iniciante. O ex-líder metalúrgico acabava de trocar o sindicalismo pela política e era um elemento ainda exótico demais na paisagem do poder. O orçamento da campanha também não dava margem para entusiasmo: de tão apartado, as viagens eram feitas de ônibus e o candidato se via obrigado a dormir em colchonetes espalhados nas casas de militantes. Lula tinha, no entanto, três trunfos que o faziam apostar numa votação encorajadora: liderava um partido que representava grande novidade do cenário político brasileiro, contava com o apoio de trabalhadores, de setores da igreja progressista, do apoio do clero católico mais à esquerda.

Também torcia pelo sucesso de Lula o então Cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Era também o queridinho de uma ala de intelectuais que incluía nomes como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e o crítico literário e professor Antônio Candido, um dos intelectuais mais reverenciados pela esquerda. A abertura das urnas, porém, reservou-lhe uma surpresa: Lula terminou em quarto lugar com 11% dos votos. Ele ficou perplexo.

Não entendeu o que havia acontecido. Mesmo em cidades onde havia reunido 20.000 pessoas, não teve mais do que 500 votos. Ficou completamente frustrado, sem rumo.

A ressaca, curtida em exílio doméstico na companhia de alguns poucos amigos e muita cachaça de Cambuci, só passou três meses depois. Lula emergiu dela com meia-culpa que, para um recém-criado partido que chegara a resistir à própria legalização com o argumento que estaria se ‘obrando à legislação burguesa’. Disse mais: que errara ao pensar que o Brasil era feito de metalúrgicos e ao dirigir-se ao eleitorado como se estivesse falando para peões de fábrica. Afirmou que ‘esse negócio de que trabalhador vota em trabalhador não funciona’. O partido, se quiser ganhar eleição, terá que perseguir ‘o voto do pobre e o voto do rico’.”