Número interessante é o que se refere aos rendimentos de brasileiros de acordo com sexo e cor da pele. Os brancos ganham mais que os negros e, até aí, não há nenhuma novidade. Ocorre que a diferença de salários entre brancos e negros é menor em Curitiba, uma cidade colonizada por imigrantes europeus, do que em Salvador, a capital de maior população negra. O rendimento médio de um homem branco em Curitiba é uma vez e meia superior ao de um negro. Em Salvador, a proporção é de três por um, em favor do trabalhador branco. A explicação é reveladora a respeito das oportunidades e do grau de tratamento oferecidos pela sociedade brasileira aos seus diferentes grupos. Proporcionalmente, Salvador tem muito menos brancos que Curitiba. Mas são eles que ocupam os melhores empregos com os melhores salários. A brutal diferença de rendimentos mostra que os negros nunca tiveram as mesmas chances de ascensão social oferecidas aos brancos e essa é uma das formas mais cruéis de preconceito. No Sul, o grau de escolaridade tanto de negros como de brancos é maior que no Nordeste, observou o presidente do IBGE.
A educação é uma das formas mais eficientes de distribuição de oportunidades, e por isso a diferença de rendimentos não é tão grande em Curitiba quanto em Salvador. O salário mínimo brasileiro é um dos mais baixos do mundo e mais de 30 milhões de pessoas recebem até um pouco menos que isso para sobreviver. Mesmo com uma taxa de crescimento populacional de 1,4% ao ano, o país não consegue criar empregos em número suficiente para os 2 milhões de jovens que anualmente entram no mercado de trabalho.
Aqui tem um grande detalhe: Se a educação é uma das formas mais eficazes de distribuição de oportunidades e criação de empregos como explicar se os professores estão em pé de guerra constantemente por melhores salários? Aqui no Paraná, os professores e seu Sindicato protestam, enfrentam a polícia na frente da Assembléia Legislativa, e o governador diz que este ano não é possível melhorar os salários dos servidores sem aumentar impostos? Isso ninguém quer ouvir. O contribuinte até hoje sempre foi convocado para preencher a lacuna. Cansou. Os governantes estão aí, para resolver os problemas. Enquanto isso, o emprego formal no Brasil, aquele em que o trabalhador tem seus direitos assegurados pelas leis do país, é ainda privilégio de poucos. Um terço dos empregados não tem carteira assinada e não contribui para a Previdência Social. Isso é ainda a marca do subdesenvolvimento. É sim um sintoma de que a economia brasileira não gera empregos em quantidade e de boa qualidade. Dois milhões de brasileiros subempregados que vivem abaixo da linha de pobreza, muitos não tem o que comer todos os dias. Sobrevivem apenas com cestas básicas, e programas sociais do governo. Isto acontece em um país onde o agronegócio é o carro-chefe da economia. No Brasil, ganha-se mal, mas o custo do trabalho é alto. Os encargos sociais pagos pelas empresas dificultam a geração de emprego. Não vamos nem apontar quantos são os encargos sociais, apenas ouvimos empresários falar que se o empregado recebe um salário, ele custa mais outro de encargos. Isso dificulta a geração de empregos. Uma saída seria reduzir esses encargos, disse alguém que já foi Ministro do Trabalho.