Imigrantes no Sul

Há 200 anos, chegavam as primeiras levas de imigrantes alemães no Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul e, ao longo do rio Itajaí em Santa Catarina. Não muito distante de Porto Alegre, formaram número considerável de municípios, que abrigam cerca de 700.000 pessoas que desfrutam e preservam, geração após geração, um alto padrão de qualidade de vida.

Fazem parte deste pedaço do Brasil os imigrantes em Santa Catarina, onde os índices de pobreza são tão baixos quanto os da Inglaterra, os analfabetos são tão difíceis de encontrar quanto no Canadá e, vive-se mais tempo com saúde como os idosos da Bélgica.

O custo de vida é baixo, os serviços públicos funcionam sem corrupção e, as pessoas se sentem seguras morando em casas sem muros. O médico começa a consulta acionando o computador para levantar o histórico do paciente. “Meu trabalho é um tédio” – diz um discal de trânsito de uma dessas cidades gaúchas.

As crianças enfrentam turnos escolares longos, chegando a passar 8 horas por dia em sala de aula e, as notas superam em muito a média nacional. O que explica afinal, de cidades do sul se saírem melhor das demais, mesmo colocadas lado a lado com municípios brasileiros do mesmo tamanho e até maiores?

O diferencial é que estes municípios dos dois estados receberam os imigrantes alemães, seguidos por italianos. Construíram escolas comunitárias que eles mesmos administraram contratando professores particulares.

Padres católicos e pastores luteranos colaboraram sempre na educação. Os professores eram exigentes, que vez ou outra faziam uso de vara de marmelo, hoje proibido. Juntavam 60-70 alunos em uma sala, ninguém queria ficar de fora. Isto levou a atingir os mais altos níveis de educação há muitas décadas.

Em 1920 enquanto a população brasileira estava atolada em 70% de analfabetos, a taxa do sul beirava a zero. A educação desencadeou um ciclo virtuoso, estando sempre na vanguarda do desenvolvimento. Pessoas com boa escolaridade são mais propensas a respeitar contratos e o direito à propriedade privada. Na sociedade sempre aparece gente qualificada para ocupar cargos de comando.

A educação contribui também para a escolha de bons governantes, pois pessoas educadas são mais críticas e, aguçado o hábito de fiscalizar os governantes. A maioria dos imigrantes que aqui chegaram tinham nível de instrução elevado, a religião predominante entre os alemães era a Luterana, explicando o apreço pelos livros.

Na Alemanha do século XVII, os luteranos atraíam adultos e crianças para as escolas, pois o objetivo era alfabetizar para que pudessem ler a bíblia, ensinando também matemática, para não serem roubados pelos ricos. Desse caldo cultural saíram os imigrantes que vieram ao sul do Brasil.