Valéria Caimi – mestre em Letras, professora da rede estadual, poetisa, contista e cronista.
_ Mãe, você notou que este Natal está tão borocoxô?
_ Como assim?
_ Ah, sei lá… Sem graça! As pessoas não estão animadas pro Natal!
_ Talvez o Natal esteja menos comercial esse ano.
_ É, pode ser.
Com essa dúvida entramos no carro e seguimos rumo a nossa casa. No caminho passamos por uma casa toda enfeitada, cheia de luzes nas portas, nas janelas, na varanda, no jardim e até nas árvores. Um grande pinheiro com uma estrela na ponta parecia sugar-me. Diminui a velocidade até parar. Estacionei em frente àquela casa. Quem moraria nela? Deveria ter levado anos comprando tantos objetos de ornamentação. As luzes eram coloridas e quase hipnotizávamo-nos. Pensei no aumento da conta de luz, naquele momento. Perante tanta beleza, a matéria ainda consumia-me. Pedi perdão ao menino Jesus por não focar somente no espiritual, diante daquela cena da manjedoura toda iluminada. Andava muito materialista e cética, ultimamente.
Boquiabertas, olhando tantas luzes, descemos lentamente do carro e fomos em direção a grade. Paramos em silêncio. Então podíamos ouvir a canção que tocava de fundo. Era “Noite Feliz”. Realmente seria uma noite feliz? Aquelas luzes pareciam ter acendido uma fagulha dentro de mim. Comecei a lembrar de todos que não tinham luzes em seus casebres, nos lugares longínquos em que só há a luz do lampião, de uma vela, ou nem isso! Veio-me na mente a cena dos “gatos” feitos nas favelas, das luzes das praças iluminadas, dos presépios nas igrejas, das velas da coroa do advento. Aqueles pensamentos desconexos e desordenados invadiram-me, ao mesmo tempo, que o piscar das luzes cegavam-me.
Queria sair dali, fugir das luzes e dos meus pensamentos. Mas não conseguia mover-me. A fagulha acesa, a essa altura, já tinha virado uma labareda em meu interior. Sim, o espírito natalino deixa-nos mais reflexivos. Diante daquelas luzes e daquela manjedoura, pensei na escuridão do ser humano. A humanidade tem vivido dias de trevas. Mas aí estava a Luz! Talvez de tantas luzes que acendemos ao nosso redor, esquecemos de acender a luz que há em nós. Esquecemos de abrir e ornamentar as janelas da alma para iluminarmos e embelezarmos a existência. Assim, passamos os dias lamentando o breu dos nossos olhos!
Olhei novamente para estrela do topo da árvore de Natal e ela levou-me a olhar para o céu! Há quanto tempo não olhava para o céu? Com as luzes artificiais ofuscando minha visão, não consegui ver nenhuma estrela. Mas prometi a mim mesma, naquele momento, que voltaria a olhá-las!
_Mãe, vamos?
Retornei a realidade escura, com aquela voz doce chamando-me. Apenas balancei a cabeça em sinal afirmativo e caminhamos silenciosas, lado a lado, até o carro. Diante da Luz, na há palavras a serem ditas!