Professoras Andreia Fey e Vanize Boldrini: uma obra e uma trajetória

Colégio Laranjeiras lançou o livro ‘As mulheres na Música’ e homenageou a mestre em história

Duas mulheres. Duas professoras. Na sexta-feira, 4 de novembro, com o Cine Teatro Iguassu lotado, o Colégio Estadual Laranjeiras do Sul fez justas referências a elas. Uma lançou um livro e outra se despediu com homenagens. Confira:

Músicas e mulheres

O livro ‘As mulheres na Música’ lançado no evento de honra ao mérito, foi escrito pela professora de Arte, Andreia Fey. Ele faz um interessante resgate do papel das mulheres ao longo da história dessa arte. “Esta obra resultou da minha pesquisa para a dissertação de mestrado”, contou Andreia ao Correio do Povo. A partir do incentivo de sua orientadora, Andreia decidiu transformá-la em livro.

Andreia pontua que temos historicamente uma certa invisilidade das mulheres em ambientes públicos e registros oficiais. “A arte não foge a essa regra. Como professora, analisei os livros didáticos de arte que são distribuídos nas escolas. E pude constatar que a maioria dos artistas mencionados são homens. No entanto não significa a ausência de mulheres, mas o hábito de pensar em nomes masculinos. Ainda menos quando se pensa em compositoras, na área da música”, explica.

O livro traz tabelas, com sugestões de nomes de cantoras e compositoras, quando se fala de determinados períodos e estilos, buscando ampliar a perspectiva dos professores de arte. “Ao aumentar o repertório, incuindo as mulheres, queremos desnaturalizar esses comportamentos que eternizam a invisibilidade feminina. Isso sem desmerecer, de forma alguma, o masculino”, ressalta a professora.

Vanize e seus 27 anos dedicados a ensinar história

Mãe do Benício (9 anos) e casada com o professor Mariano Sanches, a professora Vanize Bee Boldrini acaba de se aposentar. Segundo ela, foi muito emocionante a homenagem do Colégio Laranjeiras, sua última escola, no evento da semana que passou. Ela atuou como profissional por 34 anos, destes, 27 como professora.

Trajetória

Vanize é formada em História pela Unicentro, com mestrado em Educação pela mesma instituição.

No início da vida profissional atuou como projetista e depois, bibliotecária. Durante dois anos foi professora (PSS) e então passou no concurso, começando no colégio Gildo. “Eu dei aula para os pais dos meus atuais alunos! Passei duas gerações. Aprendi muito, fui vice-diretora lá e guardo enorme carinho por toda a equipe”, disse Vanize.

Em 2005 ela deu um tempo na vida acadêmica. Pediu licença de dois, sem remuneração e foi morar na Europa. “A grande lição que tirei dessa experiência, foi desenvolver um profundo amor pelo meu país. Não tem como se sentir em casa num país estrangeiro. Perdi aquela tal síndrome do vira lata, que aqui tudo é ruim, que os outros são sempre melhores. Aqui a gente está em casa. A nossa essência, a nossa cultura é brasileira”, relembra.

De todo modo, Vanize acha super válido ter uma experiência neste sentido. “Passar um tempo no exterior é bom. Até para dar mais valor ao Brasil, despertar o respeito e admiração pela nossa pátria”, afirma. Ela ressalta ainda que é importante os jovens terem a percepção de que aqui também pode-se fazer algo bom, ter uma renda digna e qualidade de vida. “Temos as condições, não é só lá fora. Muitos se iludem”, frisa.

Retomada

Ao voltar, foi convidada para trabalhar no Núcleo Regional de Educação, atuando com a Educação Profissional. “Também aprendi muito, tivemos muitos cursos, muita formação. Passei a entender melhor o mundo do trabalho e teorizar os fundamentos, por causa do meu trabalho na Itália”, explicou.

Ela voltou então para a sala de aula, trabalhando com os alunos do Colégio Vila Industrial e do Colégio Laranjeiras. “Foram também experiências marcantes. “Agradeço aos diretores por todo apoio e incentivo”, declarou.

Aposentadoria

Desde 25 de outubro está gozando da aposentadoria. “Primeiramente quero tirar um tempo e descansar.  Há algumas causas em que vou continuar atuando como voluntária. Por exemplo, a ONG Fundação Colibri, que trabalha com grupos de pais e mães de crianças e adolescentes com TEA – Transtorno do Espectro Autista”, contou Vanize.

 Segundo ela, é um trabalho cada vez mais necessário, bonito e que realmente merece o apoio de toda a sociedade. “Estamos buscando recursos e parcerias para oferecer terapias que contribuem para o desenvolvimento e integração dos autistas”, disse.

Reflexões sobre a educação

Vanize reflete que é muito importante valorizar o professor. É uma profissão tão linda, que precisa ser reconhecida pelas famílias e pelas organizações. “Quando eu comecei a trabalhar existia mais respeito e reconhecimento. Eu sou afortunada, nunca tive problemas em relação à disciplina. Mas vejo atualmente muito pais indo até a escola para reclamar. Numa questão de indisciplina, ficam ao lado dos filhos e culpam os professores. Isso desmotiva. Faz com que muitos bons professores desistam e abre espaço para aqueles que as vezes nem tem vocação, mas vão trabalhar apenas pelo salário”, acredita Vanize.

A professora analisa os prós e contras do atual momento. “A educação em que eu comecei a dar aulas é muito diferente da que eu deixo. Essa crise da educação é uma crise da própria sociedade. O conhecimento está perdendo o valor, logo o professor também. Mas eu acredito muito nas futuras gerações, vejo que meus alunos são mais solidários, menos preconceituosos e mais generosos”, finaliza.