Pitoco: Como Alvaro Dias e Hermes Parcianello foram “esmagados” pela turma do “quente ou frio”

A preferência pela pancadaria política que relegou os moderados ao ocaso não foram a única causa a explicar a derrota de Álvaro Dias e de outro longevo, Hermes Parcianello

Por Jairo Eduardo – editor do Pitoco

Faltavam algumas semanas para o pleito quando Álvaro Dias visitou Cascavel. Foi instado a avaliar a postura de Sergio Moro, que ele (Alvaro) havia levado para dentro do partido e depois virou seu concorrente.

Foi cutucado para comentar a polarização na disputa presidencial. Em ambos os casos, o veterano não polemizou, não agrediu, foi salomônico.

Esse perfil moderado, equilibrado e até elegante passou a ser entendido por grande parte do eleitorado como “em cima do muro”, “sem posição definida”.

Assim, quem foi mais agressivo na disputa ao Senado acabou atropelando na reta final: Sergio Moro, o vencedor e Paulo Martins, 2º colocado, relegando o decano para uma modesta terceira posição.

Nem mesmo em cidades nas quais recebeu o apoio de outros moderados bons de voto, como o prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, que o carregou a tira-colo por aqui, Alvaro Dias conseguiu desempenhar.

Em Cascavel a votação de Dias ficou abaixo da média estadual, cravando 31,7 mil votos (19%) contra 57 mil de Moro (34 %) e 54 mil de Paulo Martins (33%).

Na eleição presidencial a mesma tendência se cristalizou. Embora os debates, o tempo na TV, a fortuna em fundo eleitoral e a mídia espontânea tenha assegurado ampla visibilidade para Ciro Gomes e Simone Tebet, ambos saíram nanicos das urnas, com menos de 5% dos votos.

Frangão fora

A preferência pela pancadaria política que relegou os moderados ao ocaso não foram a única causa a explicar a derrota de Álvaro Dias e de outro longevo, Hermes Parcianello.

Ambos também carregavam a pecha do continuísmo, dos mandatos encadeados, fatores que incomodam uma parcela do eleitorado suscetíveis ao bordão “chega dos mesmos”.

O bordão é validado por muitos mesmo que os mesmos sejam trocados por outros mesmos com pose de novatos.

Aqueles que – genuinamente ou por oportunismo político – navegaram na onda bolsonarista ou lulista, desempenharam melhor.

E os números respaldam a assertiva: o PL linkado ao 22 elegeu 99 deputados, e o PT 68 – se contar seus partidos satélites, mais de 100.

Nestas esferas petistas ou bolsonarista, em suas franjas mais radicalizadas, não bastava ao postulante estar alinhado com o 13 ou ao 22: era também preciso manifestar ódio ao “inimigo” que pensa diferente e dialogar com o cérebro reptiliano do sapiens.

Neste cenário, o cérebro galináceo do Frangão, eleitor de Simone Tebet, não daria conta mesmo e ele deixa o Congresso Nacional aos 64 anos após sete mandatos consecutivos.

No auge da carreira, em 2010, Frangão chegou a fazer 154 mil votos, atrás somente do futuro governador, Ratinho Junior. Quando as urnas do último domingo revelaram seus segredos, restavam ao goioerense pouco mais que a metade: 87 mil votos.

Curiosamente, Frangão fez 30 mil sufrágios a mais que outro cascavelense, Nelsinho Padovani, eleito na última vaga do União Brasil.

Moderados decidem

•A diferença de Lula para Bolsonaro no 1º turno foi de pouco mais de 6 milhões de votos. A chamada 3ª via, somada, fez 10 milhões de sufrágios. O eleitor moderado, portanto, será decisivo no 2º turno.

•Requer dizer que ambos os candidatos terão que moderar suas posturas.

•E por algumas semanas relevar o trecho bíblico do “seja quente ou frio, se for morno vomito”.

•Será a vez das minorias que não votam com o fígado nem idolatram políticos definir a eleição mais polarizada da história do Brasil.