Esperança e reconstrução marcam dias após tornado que atingiu Rio Bonito
Governo do Estado libera R$ 60 milhões para construir 320 casas; moradores se unem em mutirões para limpar e reerguer a cidade
Após o tornado que atingiu Rio Bonito na última sexta-feira (07), moradores da cidade de 14 mil habitantes começaram as ações de limpeza e reconstrução. A força do vento destruiu casas, comércios e prédios públicos, deixando mais de mil pessoas desalojadas.
Em meio aos escombros, a solidariedade de vizinhos e voluntários tem sido essencial. Entre as famílias afetadas está a de Romualdo Vovani, de 45 anos, que ‘correu’ de Laranjeiras para socorrer os pais. “Eles perderam a casa e o comércio, mas estão bem. Agora, o foco é limpar e cobrir o que restou”, relatou.
Romualdo lembra ter vivido um tornado semelhante em Nova Laranjeiras, em 1997. “Lembro que foi terrível, com alguma semelhança ao que aconteceu aqui. Mas me parece que agora a proporção é maior, muito mais dolorosa. Nunca tinha visto algo tão forte”, ressaltou. Mas a esperança permanece. “Sou otimista. Acho que Nova Laranjeiras, depois daquele momento, se renovou. Não é fácil, mas acredito que Rio Bonito vai ter uma nova cara daqui para frente. Tem que ser otimista, não dá para desanimar”, afirmou.
Relatos de quem enfrentou o tornado
O pânico também marcou a história de José Godoy, de 41 anos. A esposa dele, grávida de quatro meses, estava sozinha em casa no momento da tempestade. “Ela ouviu um estrondo e se abrigou debaixo da mesa enquanto o telhado caía. O importante é que ela está viva”, disse. Após o susto, a mulher foi para Foz do Iguaçu, onde está abrigada na casa dos pais. José destacou que o mais importante foi encontrá-la com vida. “Os bens materiais a gente recupera, mas a vida não. Fiquei aliviado ao vê-la bem. O resto se reconstrói com o tempo”.
Ex-militar da Marinha e integrante da missão de paz no Haiti, iniciada em 2004, José contou que nunca havia vivido algo tão intenso. “Lá eu cheguei depois da tragédia. Aqui, vivi tudo em tempo real, perto da minha casa. É muito diferente”. Questionado se pretende deixar a cidade, ele foi enfático: “Quero ficar e ajudar Rio Bonito a se levantar”.
O estudante Eduardo Zanotto, de 22 anos, conta o que passou: ““Assim que o vento parou, ele conseguiu entrar no banheiro, retirou a madeira, mas começou a sangrar muito. Improvisamos um pano para estancar o sangue e pedimos ajuda para os vizinhos, porque tudo aqui estava cercado, cheio de fios caídos, e a gente não sabia se estavam energizados”, continuou. Os pais de Eduardo foram para uma unidade de saúde e, mesmo debilitado, o pai já estava na linha de frente, dirigindo a ambulância até Laranjeiras, uma vez que não havia motorista disponível para levar as pessoas que necessitavam de atendimento. “Acho que ele sentiu que precisava ajudar, e foi o que ele fez”.
Ele destaca que os vizinhos já começaram a reconstruir, em uma rede de solidariedade. “Tem gente que nunca tinha visto e veio ajudar, famílias de outros municípios, amigos que vieram de longe. Minha irmã veio de Foz do Iguaçu na mesma noite para dar apoio. Ver tanta gente se unindo assim é muito importante. Dá força pra seguir em frente”, finalizou.
Para Carla Kerkhoff, de 24 anos, o vento chegou de repente. “O telhado veio abaixo e destruiu tudo. Perda total. A ajuda anunciada pelo governo é o que vai permitir recomeçar”, afirmou. A moradora Anatália Lunardi, de 63 anos, se escondeu sob a mesa para escapar dos destroços. “Os vidros começaram a quebrar e o barulho era ensurdecedor. Ficamos apavorados”, relembra”. A moradora conta que, logo após a passagem do tornado, os vizinhos começaram a se mobilizar para ajudar uns aos outros. “O pessoal se uniu, organizou doações e foi atrás de quem mais precisava. Muita gente perdeu tudo, e infelizmente houve vítimas fatais. O importante agora é ajudar quem ficou sem nada.”
Com esperança, Anatália reforça a importância da solidariedade neste momento. “Agora é o tempo de reconstruir, mesmo que devagar. Um ajuda o outro e a gente vai se levantando. Sempre digo aos vizinhos: temos que ter força, porque estamos vivos. É hora de recomeçar”.
R$ 60 milhões para 320 casas
O secretário das Cidades do Paraná, Guto Silva, anunciou, na manhã desta terça-feira (11), em Rio Bonito, a instalação do ‘Escritório de Reconstrução Acelerada’ para coordenar as ações na cidade.
O anúncio foi feito durante reunião de trabalho com equipes da prefeitura de Governo do Estado e Ministério Público, onde foi feita a avaliação de ações até o momento e foi iniciado o processo para a construção emergencial de 320 casas no município. “Vamos avançar de forma acelerada mas organizada para garantir a eficiência de todas as ações e para que as vidas das pessoas e da cidade sejam plenamente devolvidas à normalidade”, disse Guto Silva.
As obras terão início assim que as equipes de engenharia concluírem os estudos com diagnósticos técnicos e estruturais dos terrenos. O processo acontecerá em paralelo ao repasse de até R$ 50 mil por família para reformas. O investimento deve ser de cerca de R$ 60 milhões.Equipes da Cohapar e do CREA-PR realizam o levantamento dos danos em residências e prédios públicos, já que 90% do município foi atingido.
Também já foi autorizada a reconstrução das escolas destruídas.Em meio à destruição, o sentimento que prevalece entre os moradores é o de recomeço. Como resume a moradora Anatália: “Perdemos muito, mas ainda temos a vida. E é com ela que vamos reconstruir tudo de novo”.



