Acordo entre países pode afetar exportações brasileiras em até US$ 4 bilhões

Reaproximação comercial tende a diminuir a participação do Brasil no mercado chinês de soja, embora o país mantenha a liderança global nas vendas do grão

O recente acordo comercial firmado entre Estados Unidos e China, anunciado no fim de outubro por Donald Trump e Xi Jinping, pode ter reflexos imediatos sobre a balança comercial brasileira. A previsão é de uma perda potencial de até US$ 4 bilhões nas exportações de soja brasileira para o mercado chinês nos próximos seis meses, segundo estimativas de analistas e da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Pelos termos preliminares, a China voltará a importar 12 milhões de toneladas de soja americana até janeiro de 2026, chegando a 25 milhões de toneladas anuais até 2028. Esse movimento reduz a dependência chinesa do grão brasileiro, que nos últimos anos respondeu por até 80% das compras do país asiático.

Cenários e projeções para 2025 e 2026
O impacto no Brasil dependerá do ritmo de implementação do acordo.
Se totalmente efetivado, o país pode perder US$ 4 bilhões em receita; em um cenário parcial, com média de 15 a 20 milhões de toneladas compradas dos EUA, a perda ficaria em torno de US$ 2,5 bilhões.
Antes da retomada das compras americanas, a Abiove projetava 84 milhões de toneladas exportadas à China em 2025, contra 72 milhões em 2024. Agora, a estimativa foi revista para 82 milhões de toneladas, ainda acima do desempenho anterior, mas abaixo do previsto inicialmente. Para 2026, o volume pode recuar para algo entre 72 e 75 milhões de toneladas, uma queda de até 10 milhões de toneladas frente a 2025.

Competição e cenário global
Além do reposicionamento dos EUA, o setor brasileiro enfrenta concorrência crescente da Argentina, que deve ampliar em 17% suas exportações na safra 2025/26, buscando novos mercados fora da China.
Apesar da reação americana, o Brasil segue como líder mundial nas exportações de soja, graças ao ganho de produtividade, à expansão da área plantada e à competitividade logística do corredor paranaense e do Arco Norte.

Incertezas no acordo Trump–Xi
Mesmo nos Estados Unidos, há ceticismo quanto à durabilidade do pacto. Agricultores americanos temem que uma nova escalada política entre Washington e Pequim inviabilize o acordo e volte a abrir espaço para o produto brasileiro.
Reportagem do Wall Street Journal destacou que, embora o acerto traga alívio temporário, não resolve o desafio estrutural de competir com o Brasil, país que superou os EUA como maior exportador global há mais de uma década. “Eles têm terras e mão de obra baratas, além de agricultores muito competentes”, reconheceu um produtor americano ao jornal.
Enquanto isso, compradores tradicionais da soja brasileira, como Tailândia, Bangladesh e Paquistão, ampliam as importações de soja dos EUA, redesenhando o mapa global de fornecimento da commodity.