Rio Bonito: Esperança para vencer a incerteza
Luto, traumas nas crianças e comércio quase paralisado revelam as marcas deixadas pelo tornado; mesmo ferida, cidade se apoia na união para reconstruir a própria história
Neste domingo (07), completa-se um mês desde que o tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu destruiu casas, estabelecimentos comerciais e transformou a rotina da população. O fenômeno climático, registrado em 07 de novembro, deixou um rastro de perdas materiais e emocionais que ainda marcam a cidade. O jornal Correio do Povo do Paraná conversou com moradores que enfrentam luto, traumas e dificuldades para recuperar a estabilidade financeira e emocional.
Enquanto equipes públicas seguem atuando na reconstrução da infraestrutura, a comunidade lida com a lenta retomada da normalidade. Entre as histórias estão as de quem perdeu familiares, de crianças que desenvolveram medo de tempestades e de comerciantes que viram sua renda praticamente desaparecer. As narrativas mostram como os efeitos da tragédia permanecem vivos no cotidiano das famílias.
Luto e resistência no cotidiano
Jackson Alves Ferreira, morador da cidade, perdeu o pai, Jurandir Nogueira Ferreira, uma das vítimas fatais do tornado. Parte de sua casa também foi danificada. Há um mês, ele tenta organizar os sentimentos e seguir em frente em meio à ausência.
“Perdi meu pai e também perdi um pouco da minha casa. Durante esse um mês estou tentando aceitar e ficar bem. Não está sendo fácil, mas para tudo tem um jeito… não posso desistir da vida”, relata. Jackson afirma que o apoio mútuo entre moradores tem sido essencial. “Espero que daqui a um ano nós, moradores de Rio Bonito do Iguaçu, juntos voltemos mais fortes. Acho que a união da nossa gente é que faz a força, como diz o ditado”. Afirmou, Jackson.
O sentimento de coletividade, citado por ele, tem sido apontado por muitos moradores como um dos pilares para atravessar o período pós-desastre, já que famílias inteiras estão fragilizadas emocionalmente e financeiramente.
Medo que permanece nas crianças
Entre as consequências mais sensíveis estão os impactos psicológicos em crianças que vivenciaram a passagem do tornado. Victor Gabriel Duarte Alves, de 11 anos, afirma que desde aquele dia, a relação com o clima mudou completamente.
“Depois que o tornado passou tudo mudou, os dias não são mais iguais. Sempre que o tempo está escuro bate um medo de algo acontecer de novo. Quando começa a chover forte vem a lembrança da destruição, de pessoas assustadas, chorando, machucadas”, conta. Ele também diz que, em dias de tempo fechado, prefere permanecer próximo da família. “Quando o tempo está feio, penso em ficar perto de um lugar seguro”.
A mãe de Victor, Suzana Duarte, relata que os filhos ainda enfrentam momentos de forte ansiedade. “Eles ficam muito nervosos, choram e querem ficar só perto de mim e do meu marido. Na última vez, o mais novo, Davi, falava: ‘Mãe, vamos entrar embaixo da mesa’”, lembra. Segundo ela, situações de chuva ou vento desencadeiam episódios de medo nas crianças, que não conseguem esquecer o barulho e a intensidade da tempestade que atingiu a cidade.
Comércio debilitado e incerteza no futuro
Além das perdas humanas e emocionais, a economia local foi diretamente afetada. Pequenos comerciantes enfrentam queda brusca no movimento e dificuldade para retomar as atividades. Entre eles está Luciane Vargas, proprietária da loja de moda feminina Luh Modas, que teve o estabelecimento parcialmente atingido.
“A gente está tentando retomar aos poucos, voltar à rotina, mas está muito difícil. Todo mundo está meio perdido, sem saber que decisão tomar. As vendas estão muito devagar, porque as pessoas recuaram nas compras”, afirma. Segundo ela, o faturamento caiu cerca de 95%. “Estamos conseguindo vender agora uns 5% do volume anterior”. Conclui.
Luciane relata que, além da baixa procura, há também falta de apoio. “As autoridades poderiam contribuir mais nesse retorno. Seria interessante alguma medida que atingisse todos os comerciantes, principalmente os pequenos. Até agora só tivemos cadastros, mas nenhum retorno”, explica. Para ela, mesmo quem não teve o comércio destruído enfrenta um cenário complexo. “Indiretamente, todo mundo foi atingido, porque a cidade toda sofreu”. Afirma.
Um mês depois, a reconstrução contínua
Passados trinta dias, Rio Bonito do Iguaçu segue em processo de reorganização. Enquanto máquinas trabalham na limpeza e reparação de ruas e estruturas públicas, famílias enfrentam as consequências invisíveis da tragédia: o luto, o medo e a insegurança.
As histórias de Jackson, Victor, Suzana e Luciane representam parte de uma realidade coletiva, marcada pela necessidade de apoio emocional, econômico e institucional. Embora a reconstrução física avance, o impacto humano ainda exige tempo, cuidado e suporte contínuo.
A esperança, no entanto, permanece presente no discurso dos moradores, que acreditam na força da união para superar os danos e reerguer a cidade. Como resume Jackson, “A gente tem que seguir em frente”.



