Especialistas dizem que preço da soja não vai subir tão cedo
Com previsão de colheita recorde, a oferta se destaca como o principal fator que derruba os valores pagos aos produtores
Em 2024, os preços da soja no mercado internacional entraram em um ciclo de queda, e especialistas apontam que essa tendência deve continuar até o primeiro trimestre de 2025, com valores abaixo dos registrados no mesmo período do ano anterior. A razão para essa previsão está diretamente ligada ao equilíbrio entre oferta e demanda, com a oferta se destacando como o principal fator que pressiona os preços.
Diferente de 2023, quando o Brasil e a Argentina enfrentaram problemas em suas colheitas, a temporada atual se apresenta mais favorável, com expectativas de boas produções nos dois países. Isso tem contribuído para que as cotações da soja na Bolsa de Chicago se mantenham abaixo dos US$ 10 por bushel, um valor consideravelmente inferior ao de janeiro de 2024, quando a média dos contratos futuros estava em torno de US$ 12.
Queda
O bom desempenho da soja no Brasil e na Argentina, somado a uma colheita promissora nos Estados Unidos, tem pressionado os preços para baixo. Segundo o levantamento do Globo Rural, a desvalorização da soja nos últimos 12 meses já supera os 25%, refletindo o impacto de uma oferta robusta. “Com uma previsão de clima favorável para o Brasil, que pode resultar em uma boa produção, não há muitas razões para um aumento significativo nos preços”, comenta o analista da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz.
O especialista de mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi, também vê os indícios de uma safra abundante como um fator decisivo para a manutenção da pressão sobre os preços da soja. Ela destaca que, se as previsões se confirmarem, tanto o Brasil quanto a Argentina devem ter colheitas recordes, o que continuará a aliviar a pressão sobre a oferta e não permitirá grandes altas de preços.
Colheita
Segundo o relatório de oferta e demanda divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em dezembro de 2024, o Brasil deverá colher 169 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25, um aumento significativo em relação aos 153 milhões do ciclo anterior. Já a Argentina, que colheu 48,21 milhões de toneladas no ciclo passado, tem previsão de produção de 52 milhões de toneladas.
Com uma oferta tão robusta prevista para 2025, há poucos fatores capazes de reverter a tendência de baixa nos preços. A demanda mundial por soja pode até crescer 5% em 2024/25, mas se essas projeções não se confirmarem, isso pode levar a um aumento nos estoques e à manutenção da pressão sobre os preços, alerta Queiroz.
Caminhos
O mercado da soja pode ser influenciado pelo comportamento dos produtores americanos, que podem reduzir a área plantada caso os preços fiquem abaixo de US$ 10,20 por bushel em maio, favorecendo o milho e possivelmente elevando o preço da soja na segunda metade do ano. No Brasil, a venda antecipada da safra 2024/25 já atingiu 35%, acima dos 20% de 2023 e da média histórica de 30%, devido à preocupação com armazenagem e expectativa de safra recorde.
Mercado de milho
Enquanto isso, no mercado de milho, as negociações estão mais lentas do que as da soja. Menos de 20% da produção de milho prevista para a safrinha já foi negociada antecipadamente, abaixo da média de 30% para este período. Os produtores de milho estão aguardando uma valorização nos preços, que atualmente estão em torno de R$ 75 por saca nos portos, com projeções de queda para julho, quando o preço pode cair para R$ 70 a saca.
O aumento da demanda por milho, impulsionada pelos incêndios nos canaviais e pelo uso crescente na produção de etanol, tem mantido os preços aquecidos. Para Brandalizze, os estoques de milho no Brasil estão baixos e o país dependerá da próxima safrinha para ajustar a oferta à demanda.
Esses cenários, tanto para soja quanto para milho, indicam que os produtores brasileiros terão que se adaptar a um ambiente de preços mais baixos em 2025, enquanto tentam equilibrar as vendas com a capacidade de armazenagem e a dinâmica das demandas internas e externas.