Sem supersafra e com dúvida sobre regime fiscal, economia desacelera em 2024
Cenário do próximo ano é marcado por questionamentos sobre o cumprimento do arcabouço e expectativas sobre retomada do ambiente para investimentos no país
Na virada do ano, o cenário macroeconômico brasileiro está envolto em incertezas e expectativas, marcando um período que não conta com estimativas otimistas para uma supersafra, elemento historicamente impulsionador da balança comercial e do crescimento do país. No Rio Grande do Sul, onde a dependência da atividade agrícola é mais significativa, as projeções indicam um período de desaceleração.
O economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, aponta o cumprimento do arcabouço fiscal como um dos fatores determinantes desse cenário. O mecanismo, que substituiu o teto de gastos, flexibilizou o controle das despesas públicas, mas enfrenta desafios, especialmente após mudanças no orçamento que destinaram recursos para o fundo eleitoral e emendas parlamentares. Essas alterações tornam difícil evitar um novo déficit no próximo exercício, contrariando a meta de zerá-lo.
Rochlin destaca que se o déficit para 2024 superar 1%, a situação se torna mais desafiadora. Ele ressalta a importância de cumprir metas e aplicar mecanismos corretivos em caso de descumprimento. Apesar das surpresas positivas no Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, Aod Cunha, economista e ex-secretário da Fazenda do Estado, aponta para uma redução da atividade em 2024, a menos que reformas, como a tributária, avancem.
Para Cunha, reformas anteriores, como a trabalhista, podem ter efeitos positivos na resiliência do mercado de trabalho e no controle da inflação. Ele ressalta a importância de avançar com reformas para reverter as projeções de desaceleração em 2024. No entanto, há preocupações quanto ao investimento das empresas, que enfrentam problemas estruturais e uma redução do nível de resguardo para futuros aportes.
No contexto estadual, Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul), projeta que o Estado terá um crescimento descolado do país, principalmente devido à recuperação após períodos de estiagem que afetaram a safra gaúcha. A agropecuária exerce papel crucial na economia gaúcha, influenciando os principais complexos industriais. Da Luz destaca que, embora a safra não seja recorde, o setor agrícola gaúcho se manterá resiliente.
No entanto, tanto no Brasil quanto no RS, desafios fiscais persistem, com tentativas de aumento de impostos e revisão de benefícios. O governador Eduardo Leite destaca a necessidade de acomodar despesas no orçamento, alertando para possíveis impactos negativos em investimentos e serviços.
O que esperar em 2024
Cenário externo: Sinais dos Estados Unidos indicam estabilidade na taxa de juros, afastando o risco de recessão mundial. O cenário na China, principal parceiro do Brasil, apresenta problemas fiscais profundos, podendo afetar as projeções de crescimento.
Mercado asiático: A China, principal parceiro do Brasil e do RS, enfrenta problemas fiscais relacionados ao setor imobiliário. Uma revisão nas projeções de crescimento em 2023 pode impactar negativamente o Brasil, prejudicando as exportações.
Câmbio e inflação: Um câmbio mais estável é esperado com base no cenário externo. Uma boa safra contribuiria para a manutenção da inflação em níveis baixos, aliviando custos em combustíveis e alimentos.
PIB e trabalho: A continuidade da redução da taxa básica de juros, aliada a uma inflação mais baixa, favorece o crédito acessível e pode impulsionar o poder de compra das famílias. Surpresas positivas no PIB não são descartadas.
Ação e reação: O descumprimento das regras fiscais pode levar a rombos sistemáticos, exigindo financiamento do governo para cobrir déficits. Aumento de impostos penaliza a produção, emissão de mais moeda pode levar à hiperinflação, e endividamento implica em juros mais altos e redução de investimentos em áreas essenciais.
Esse contexto evidencia a importância de ações responsáveis para evitar impactos negativos na economia brasileira e gaúcha, demandando uma abordagem equilibrada e focada em reformas estruturais.