Produtores de leite chegam ao limite: crise paralisa BR-158 em Rio Bonito
Mais de 900 famílias sofrem com preço abaixo do custo de produção que chega a R$ 2,40/litro, e importação de leite em pó. Comércio local perde R$ 100 mil por dia
O campo chegou ao limite. Na manhã de ontem (14), produtores de leite e lideranças da região de Rio Bonito do Iguaçu foram à BR-158 para dar um basta à crise que vem sufocando a base da economia local.
De forma pacífica e organizada, os manifestantes bloquearam a rodovia na entrada do Assentamento Ireno Alves dos Santos por cerca de 30 minutos, alternando com períodos de liberação do trânsito. O objetivo foi claro: chamar a atenção dos governos para a realidade de um setor que há meses amarga prejuízos.
“O produtor está pagando para trabalhar”
O desabafo do agricultor Wilson Padilha da Oliveira traduz o drama de mais de 900 famílias que vivem do leite no município.
“Hoje o custo de produção chega a R$ 2,40 por litro, e estamos vendendo a R$ 2,20. Estamos pagando para trabalhar. O produtor não quer esmola, quer equilíbrio. Se o produtor parar, todo o comércio do município sente”, afirmou.
Segundo ele, a conta não fecha. Enquanto os custos aumentam, o preço pago ao produtor cai — em alguns casos, abaixo de R$ 1,80 por litro. E a principal causa, segundo os manifestantes, é a entrada massiva de leite em pó importado, que chega ao mercado nacional com preços mais baixos e tributação reduzida.
Prefeito e Câmara reforçam apoio total
O prefeito Sezar Bovino acompanhou a paralisação e defendeu o ato como um alerta necessário. “A crise é real e precisa de atenção do governo. A importação de leite em pó tem derrubado o preço pago ao produtor e colocado em risco uma das principais atividades econômicas da nossa região. Eles não pedem privilégio — pedem respeito e condições justas de trabalho”, disse.
A Câmara de Vereadores também marcou presença. O presidente Edinho Rodrigo garantiu apoio integral ao movimento. “O leite é uma das bases da nossa economia. Estamos ao lado dos produtores e vamos lutar junto com eles até o fim”, declarou.
“O comércio já perdeu mais de R$ 100 mil por dia”
O produtor Silvonei Oliveira, que organizou a manifestação, destacou que a crise vai muito além das porteiras. “Nosso custo de produção está entre R$ 1,80 e R$ 2,40, mas muitos estão recebendo R$ 1,60. Só com as últimas reduções, o comércio já deixou de movimentar mais de R$ 100 mil por dia. É inviável continuar assim. Queremos ser ouvidos e receber um preço justo”, afirmou.
O coração leiteiro da Cantu
O município é a maior bacia leiteira da Cantu e a 12ª do Paraná em volume de produção. A economia gira em torno do leite — e, com ela, o sustento de centenas de famílias. A crise, portanto, não atinge apenas o campo, mas toda a cadeia econômica local.
Enquanto Rio Bonito paralisava a BR-158, Nova Laranjeiras também se mobilizava. Cerca de 150 produtores participaram do ‘Manifesto Pró-Leite’, realizado na praça da prefeitura, com presença de autoridades e lideranças da cadeia produtiva.
A produtora Edna, do Assentamento Guajuvira, se uniu a outros agricultores na luta por um preço mais justo ao produtor. Em meio à mobilização, ela fez um desabafo sobre as dificuldades enfrentadas no campo e a realidade de quem vive do leite. “Está muito difícil. Hoje, o preço está tão baixo que a gente precisa escolher se trabalha tirando leite para sustentar a família, ou compra os medicamentos e a alimentação dos animais. A conta não fecha. A situação está complicada. Falo aqui como mulher, agricultora, representando as famílias que vivem e lutam nesse trabalho todos os dias”.
Trabalhar com dignidade
Os manifestantes afirmam que o protesto é apenas o começo e que novas ações poderão ocorrer caso o governo não apresente soluções concretas.
“O produtor de leite trabalha sete dias por semana, faça chuva ou sol, e no fim do mês já sabe que vai ter prejuízo. Alimentamos o Brasil, mas estamos sendo deixados de lado”, resumiu Silvonei.
Para ele, o recado foi dado, em alto e bom som, às margens da BR-158: quem alimenta o país exige ser tratado com dignidade.



