Benzedeiras dos velhos tempos

Tempos atrás vi na televisão um documentário realizado na cidade maranhense de São Domingos do Azeitão, com aproximadamente sete mil habitantes que é conhecida como Cidade das Benzedeiras. Vendo aquelas senhoras benzendo contra diversos males e principalmente a fé das pessoas, voltei a um passado remoto quando, morando em fazendas distantes das cidades recorríamos aos benzimentos e ficávamos curados. Ir ao um médico ou a um dentista era algo quase impensável e benzedeiras e benzedores eram figuras conhecidas nos longevos rincões onde nos locomovíamos a cavalo ou em carroças. O peão que ficava curado de algum problema de saúde espalhava a notícia que corria de boca em boca. O documentário do Maranhão mostrou uma velha senhora em ação curando enxaquecas e lembrei do Felisberto, marido da Dona Ubaldina, a mais conhecida parteira daquelas campanhas que fazia exatamente como a benzedeira de São Domingos do Azeitão. O paciente colocava uma toalha dobrada sobre a cabeça e Felisberto punha uma garrafa cheia de água com a boca pra baixo sobre a tolha. Enquanto fazia orações podia-se observar borbulhas subindo no interior da garrafa. Diziam que era o ar saindo da cabeça levando junto a enxaqueca do doente para dentro da garrafa. Vi outra benzedura a qual me submeti diversas vezes na juventude quando fazia trabalho pesado e seguidamente sofria distensão muscular, dizia-se na época rendidura. Dona Alzira Serpa era imbatível na missão de costurar rendidura. Sentávamos em um banco e às nossas costas Dona Alzira permanecia em pé tendo nas mãos um pedaço de pano, agulha e linha de costurar. Lembro que ela perguntava: O que é que eu coso? Respondíamos: Carne rasgada, nervo rendido ou osso partido! Ela completava: Isto mesmo eu coso! Depois, enquanto recitava orações costurava o pano que tinha nas mãos repetindo este ritual três vezes. Havia poder nos benzimentos e fé em quem a eles se submetia, pois ficávamos curados. Testemunhei a cura de bovinos infestados de bicheiras que derrubavam as pragas após um benzimento sem que lhe tocassem mãos humanas e até terrenos infestados de cobras venenosas que ficavam livres e podia-se roçar para o plantio sem encontrar nenhum daqueles animais peçonhentos. Já aqui em Laranjeiras, depois de utilizar vários produtos contra os piolhos que infestavam nosso galinheiro, recrutamos um senhor conhecido como Seu Saruva, ele morava próximo ao antigo cortume dos irmãos Ruths e logo veio à nossa casa. Com um benzimento dele, as penosas ficaram livres dos insetos que sugam sangue e as deixam frágeis prejudicando a postura e o crescimento dos menorzinhos. Nesta arte de benzer aprendida das vovós e executada como missão não havia charlatanismo, pois ninguém cobrava absolutamente nada.

     

Deixe um comentário