O DIAGNÓSTICO DO JOVEM DOUTOR

Cinco anos após ter saído de Santa Vitória do Palmar, lá no garrão do Rio Grande para estudar em Porto Alegre, o filho daquele fazendeiro voltava formado à casa dos pais. Durante este tempo fora – raramente vinha de visita por ter horror à vida mansa da campanha e, em dobro, à mesmice da fazenda do pai -, uma que outra carta contava da sua vida. Deixava parecer que ia bem nos estudos – mal sabendo o pobre velho que o danado do “acadêmico” se formava mesmo em boêmia, grandes noitadas, amantes ocasionais e apostas em corridas de cavalos e carteado. O moço era assíduo à conta corrente do velho, num banco da capital. Não havia semana que não sacasse um bom valor. O gerente do interior alertava o pai e este, meio desconfiado mas sem deixar-se dobrar, apenas comentava: “Deixa que saque. É para os livros”. Bueno, como dizem os gaúchos, estava o rapaz de volta e o pai preparou uma grande churrascada para os fazendeiros vizinhos, os peões e suas famílias, orgulhoso em apresentar o filho formado em medicina veterinária, o que por certo seria muito útil naquela região com raros doutores e onde a economia girava em torno da pecuária bovina e ovina. O novo doutor desembarcou na estação do trem onde o esperava um jovem peão da fazenda para conduzi-lo à propriedade paterna repleta de convidados. Lá pelo meio da festa, todos foram surpreendidos por um peão que comunicava ter encontrado morto e ainda quente um valioso touro da propriedade, reprodutor caríssimo da raça Angus arrematado em leilão na Expointer que se realiza anualmente na cidade de Esteio. A preocupação se generalizou, pois temiam se tratar de uma peste que poderia afetar todos os animais da região. Alguém lembrou que por sorte tinham a presença de um jovem doutor dos bichos que poderia diagnosticar a causa da morte do valioso touro. Diante dos curiosos o rapaz se agachou, abriu a boca do animal, puxou a língua pra fora e olhou em seu interior, pedindo ao pai que levantasse o rabo do bicho e olhasse em seu fiofó. E perguntou: Pai, está me enxergando?. Com a resposta negativa do pai que naturalmente não podia vê-lo pelas entranhas do animal e para espanto de todos, disparou o diagnóstico: Não se trata de peste, morreu de nó nas tripas!.

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